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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 26 de fevereiro de 2012

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: O AMOR NA SIMPLICIDADE

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: O AMOR NA SIMPLICIDADE

                                          Rangel Alves da Costa*



Conto o que me contaram...
Hoje não, que quase não existe mais namoro. Em muitos lugares e perante os meios ditos avançados, primeiro se experimenta a fruta pra depois saber se quer conhecer o nome do outro, o que faz e se vale a pena continuar ficando. Isto mesmo, ficando, pois agora é ficar e não mais namorar.
Quem age assim nem imagina o verdadeiro encanto que é namorar, o prazer existente no pensamento saudoso pela menina da mesma rua, o quanto é gratificante esperar aflito o tempo passar para ir ao encontro do outro coração tão amado. Mas isso são coisas de outros tempos, um tempo de amor verdadeiro, de promessas e esperanças, de respeito e consideração pelo desejado.
Houve um tempo de amores nas janelas, em pé na porta de casa, sentados no banquinho do jardim, de cartas e bilhetinhos, de flores deixadas no umbral ao amanhecer, de rimas e versos deixados cair pelo lado de dentro da janela do quarto. Um tempo de amor com flores, com palavras doces e singelas, de maçã de amor e sorvete de goiaba com mangaba, de pirulito no parque, de descobertas e aventuras.
Um tempo de amor apaixonado, de serenatas ao luar, de flores vermelhas arremessadas, de violões apaixonados, de vozes se fazendo em cantoria para que as declarações musicais chegassem aos ouvidos daquela que tremia do outro lado da cortina. Um amor sem luxo e sem exageros, mas tão amado que se aperfeiçoava na sua simplicidade.
E alguém chegava levando na mão uma cesta com frutas fresquinhas, talvez carambolas e jabuticabas, araçás e mamões, goiabas e cajus. Colorido cheio de amor, paixão olorosa com sabor da estação. Não dizia quem havia mandado entregar porque junto ia um bilhetinho com um versinho, uma rima dizendo que saudade de sofrer se acaba ao entardecer. Era a senha, o sinal, o convite...
E um buquê aparecia inocentemente na janela. Sem que ela tivesse visto ou soubesse, mas alguém havia deixado ali rosas, orquídeas, violetas, girassóis, margaridas, flores do campo. Talvez só uma rosa, a mais bela que havia naquela manhã; talvez apenas algumas pétalas do que pôde colher com tanto amor. Mas não fazia diferença se um ramalhete ou apenas uma flor vermelha, se o amor não se demonstra em quantidade, mas sim em verdade.
E de repente aparecia perto da janela uma inocente folha ou um bilhetinho embrulhado dizendo absolutamente tudo: “Como te amo, amor, amor!”. Um versinho copiado de um poeta dizia: “Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder...”.
E juro que houve esse tempo. Um tempo de amor na simplicidade de infinitamente amar.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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