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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: O PAU DE SEBO

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: O PAU DE SEBO

                                          Rangel Alves da Costa*



Conto o que me contaram...
Antigamente, festa no sertão ou em qualquer cidadezinha interiorana não estava completa se não tivesse a brincadeira do pau de sebo.
Nas comemorações festivas da padroeira, nas quermesses, em outras datas escolhidas para festejos, não faltavam o forró com sanfoneiro pé-de-serra, leilão de oferendas doadas pela população, barraquinhas com comidas típicas, muitas vezes cavalhada e vaquejada, bem como o desfile de gente humilde e bonita com seus vestidos de chita, suas camisas de volta-ao-mundo e calças com boca de sino. Mas tinha que ter pau de sebo.
O pau de sebo era brincadeira que encantava a todos, desde os mais moços aos mais idosos. Consistia na escolha de uma árvore bem grande, a tirada das galhagens até deixar somente o tronco esguio, fino e liso. Era fino, porém de uma largura tal que suportasse uma pessoa subindo até chegar ao seu cume.
Depois que o pau havia sido escolhido, todo trabalhado para não deixar marcas que impedissem a subida ou ajudasse a pessoa a se apoiar, era deixado num canto até que um buraco fundo fosse aberto num determinado local da praça da matriz. Depois do meio-dia os organizadores da festança levavam o pau até local, colocava-o com firmeza, se asseguravam que não haveria perigo de desandar e tomavam as outras providências.
E a mais importante dessas providências era fazer o pacote que seria levado até o ponto mais levado do pau, lá em cima, e deixado como presente para aquele que conseguisse subir e alcançar o topo. Esse presente do pau de sebo podia ser um envelope contendo dinheiro, uma pequena caixa contendo um brinde surpresa ou até mesmo um objeto vazio.
Na verdade, o que mais empolgava subir no pau de sebo era a expectativa do que poderia encontrar lá em cima. Proibiram que colocassem urina ou fezes, mas noutros tempos muita gente descia de lá todo imprestável da fedentina. Ao saber que poderia encontrar algumas notas de valor, uma roupa nova ou algo muito almejado, então as filas se formavam para participar.
Muitas pessoas se habilitavam, porém somente algumas chegavam até a metade do pau. E isto porque pouco antes da brincadeira começar os organizadores subiam em escadas e colocavam sebo de vaca de cima a baixo. E o danado do pau ficava tão liso que muitos, por mais que sujassem o corpo inteiro de terra e se entrelaçassem com força à madeira não conseguiam subir nem um metro.
E cada deslize, descida ou queda era motivo pra zombaria e gargalhada. Era realmente difícil, mas tinha gente com mão grudenta que ia subindo com destreza de macaco. Assim que passava da metade começava a torcida para não conseguir, porém quando faltavam poucos palmos para alcançar o topo ouviam-se gritos de apoio; sobe, sobe! mais, mais! E de repente a mão tocava no objeto lá em cima e as palmas e os gritos ressoavam de canto a canto.
Hoje praticamente não existe mais, porém noutros tempos não havia festa sertaneja boa sem que o pau de sebo fizesse parte das comemorações. Talvez o sebo tenha derretido com o progresso e ninguém consegue mais brincar com tanta originalidade.
 



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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