ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: NA SACRISTIA
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Quando a velha beata empurrou a porta da sacristia e ainda conseguiu avistar um rabo de saia pulando apressadamente a janela, e ainda por cima o padre nu da cintura pra cima, quase tem um treco e morre arroxeada ali mesmo.
A velha zeladora da igreja e daquele aposento tão especial não conseguiu entender nada, apenas colocar a mão sobre os olhos até que o pastor de rebanhos se vestisse normalmente. Estava pálida, nervosa, em tempo de desabar em chilique, e por isso mesmo o religioso antecipou-se:
“Nessa idade, tenho certeza que você já deve estar precisando usar óculos e de grau bem forte. Até eu, nessa jovialidade toda que ainda tenho, também logo precisarei ir até um oculista, pois veja que outro dia entrei por essa porta e pensei ter visto alguém pulando a janela...”.
Certo de que naquela tarde a velha zeladora não apareceria na igreja de jeito nenhum, pois ele mesmo havia dito a ela que iria ficar raivoso se a encontrasse por ali mexendo numa coisa e noutra, o sacerdote se meteu na sacristia acompanhado de uma honrada senhora da sociedade, e ali compartilhando taças de vinhos e intimidades. E esqueceu a porta da sacristia apenas recostada.
De repente a porta se abre e a velha senhora encontra o religioso, novamente nu da cintura pra cima, alisando a honrada senhora que também estava sem a parte de cima da roupa.
“Você também está doente, morrendo ou coisa parecida para entrar assim porta adentro e sem ao menos bater? E logo no exato momento que estou consultando essa pobre mulher que veio me reclamar de umas dores no peito. Ainda bem que nunca esqueci os anos de medicina que estudei...”.
Nervoso e todo sem jeito por ter sido surpreendido numa situação daquelas, o sacerdote saiu-se como pôde e acenou fortemente para que a velha saísse imediatamente e fosse embora da igreja no mesmo instante.
Mas a velha beata, que conhecia muito bem a honrada senhora que estava praticamente pelada lá dentro e nunca que soubesse que a mesma tivesse doença alguma, resolveu ficar por ali mais alguns instantes. Não demorou muito e encostou o ouvido na porta e ouviu gemidos.
“Meu santíssimo, a pobre mulher tá mesmo mal. E essa gemedeira toda é de quem tá muito doente. Acho melhor correr e chamar o marido dela”. A velha disse baixinho enquanto saía sem fazer barulho.
E não demorou muito e o marido corneado entrou correndo na igreja, seguindo diretamente para a sacristia. Encontrou o sacerdote por cima de sua honrada esposa e logo gritou: “Saia de cima, não tá vendo que ela tá gemendo de doente?”
Poeta e cronista
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