MENINA BONITA MERECE FLOR
Rangel Alves da Costa*
Na verdade, a menina que tem a boniteza no espírito, a simpatia na alma, a pureza no caráter, a humildade em todo o ser e a grandeza de ser reconhecida como mulher, possui a doce diferença de ser bonita. E como tal não merecia apenas uma flor, mas arranjos, buquês, girândolas, feixes, ramalhetes.
Mas como são tantas meninas com tais e outras características não menos virtuosas, compartilharei oferendas com todas, brindando cada uma com sua flor. Por isso...
Dou um girassol, a flor da imponência e da alegria, à menina que acorda cedinho, reza o terço da sua fé, da janela olha envaidecida a manhã, depois veste sua roupa de escola e sai levando seus sonhos de amanhã e também um diário com um misterioso poema de amor que escreveu antes de dormir. Será que vai mostrar?
Dou um lírio, a flor que simboliza a firmeza e a sinceridade, bem como a pureza e a felicidade, à menina entristecida na janela, com seus pensamentos longínquos, seus olhos entristecidos, com lábio que queria beijar outro lábio, mas por enquanto se contenta em beijar a folha seca que a ventania da tarde lhe oferece.
Dou um jasmim, flor que simboliza a elegância e a bondade, à menina que sabe realmente ser mulher, não se apressa em namorar, não pensa em se entregar a qualquer um e faz do seu corpo, de sua honra e dignidade feminina verdadeiro escudo contra as tentações dos tempos e frugalidade dos homens.
Dou uma orquídea, a flor da mais perfeita beleza feminina, por sua elegância e charme, à menina obediente, dedicada à família e que respeita os pais, tem especial consideração pelos mais velhos, humildes e desvalidos, não se cansa de cortar veredas para visitar comunidades carentes e, através da palavra e do que possa fazer, compartilhar a feição da vida que acha que todos merecem ter.
Dou uma rosa, flor que simboliza o amor e as virtudes amorosas do coração, à menina que vive o seu mundo, conhece e respeita os limites de sua idade, compreende bem os perigos existentes ao redor, não se deixa levar por modismos, falsas promessas, luxos fáceis nem luxúrias, fugindo sempre dos exageros da adolescência e dos devaneios a que muitas outras de sua idade se entregam se medir as consequencias.
Dou uma camélia, a flor da virtude despretensiosa, e da beleza perfeita, à menina que desde cedo já é mulher sendo ainda quase criança, ainda menina, moça jovem demais para tanto fazer na vida. Esta que não se importa em ajudar a mãe, em lavar e passar, cozinhar e varrer a casa, debulhar o milho e estender a roupa no varal.
Dou uma margarida, a flor da doce e singela inocência, à menina que se contenta com o que tem, se veste lindamente com as roupinhas simples que possui, calça feito a mais bela Cinderela a sandália ou o sapatinho de todo dia, se enfeita belamente sem precisar de ricos adornos nem joias luxuosas, mas quando se olha no espelho e sorri de contente recebe um beijo de agradecimento do outro lado, do seu reflexo.
Dou uma tulipa vermelha, flor que simboliza uma declaração de amor, à menina poetisa, à menina dos versos e das cartinhas, dos pequenos contos e dos escritos tantas vezes escondidos por medo de que não entendam sua literatura intimista, tão própria e cheia de sonhos e fantasias características de uma idade que voa, voeja e esvoaça sem sair de sua janela.
Dou uma violeta, flor que simboliza a modéstia, à menina que um dia abriu a janela e me olhou tão bonita, tão meiga e tão sublime. De cabeça baixa envergonhada, quando ergueu novamente os olhos ouvi dentro de mim, na voz do coração, uma música dizendo que “Foi assim como ver o mar/ A primeira vez que meus olhos/ Se viram no seu olhar/ Não tive a intenção/ De me apaixonar/ Mera distração/ E já era o momento de se gostar/ Quando eu dei por mim/ Nem tentei fugir/ Do visgo que me prendeu/ Dentro do seu olhar...”.
E para esta tenho de me tornar jardineiro.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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