ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: REZAS DE DESPEDIDA
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Dependendo da cultura, em quase todo lugar a morte é motivo de entristecimento e dor. Alguns povos prestam homenagens com manifestações ritualísticas; outros se despedem do falecido pranteando desde já a saudade; já outros permanecem no silêncio profundo e intimista, cujo lamento somente cada um para poder decifrar.
Mas nas regiões interioranas sertanejas, a morte é acontecimento funesto com ritual muito próprio, principalmente nos rincões onde os laços familiares ainda são muito fortalecidos e os vínculos familiares respeitosos. Nestes locais sente-se a morte, chora-se a morte, reza-se a morte.
Os familiares não, pois estes geralmente ficam recolhidos no seu pranto e no recebimento do conforto dos amigos e vizinhos que chegam. Mas as mulheres que vão chegando para a sentinela, velhas senhoras conhecedoras dos mistérios dos cantos, logo começam a entoar cantigas de encaminhamento da alma.
E ouve-se porta adentro, ecoando pelos arredores entristecidos, as incelenças:
“Uma incelência
Ô mãe amorosa,
Seu filhinho vai morto
Na vida saudosa.
Duas incelências
Ô mãe amorosa,
Seu filhinho vai morto
na vida saudosa.
Três incelenças...”
“Uma incelença,
Entrou no paraíso
Adeus irmão, adeus,
Até o dia do Juízo.
Duas incelenças
Entrou no paraíso
Adeus irmão, adeus,
Até o dia do Juízo.
Três incelenças...”.
E assim a vida despede-se da morte nos sertões de meu Deus. Um canto triste que ecoa até o tamanho da saudade que o defunto deixa. Por isso é que em muitos jamais se apagará nos ouvidos, e principalmente no coração, esse lamento doloroso de ausência.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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