*Rangel Alves da Costa
Quando
estou com saudade eu me lembro da flor. Quando quero beijar eu me lembro da
flor. Quando quero abraçar eu lembro a flor. Quando quero amar não tenho a
flor. A flor vive no pensamento, mas nunca está comigo.
Imagino a
flor viçosa, colorida e perfumada, ainda que no jardim de um coração desfolhado
e sem cor. Quem dera tê-la mesmo entre espinhos e ferroadas de abelhas
famintas. Mas não tenho a flor.
Quem dera
ao menos a flor do mandacaru, que brota, encanta, apaixona, mas na manhã seguinte
só lhe resta as cinzas de flor. Mas não tenho esta flor e nenhuma outra flor.
Dói imaginar quanto efêmera é a vida e, nos seus instantes de viver, outra
coisa procurar senão o amor.
Quem dera
ter uma flor do campo, uma florzinha miúda de beiral de estrada, tão pequenina
e tão encantadora que o sentimento logo desperte ante a sua beleza. E tocá-la
com as mãos, acariciá-la, beijar e seguir adiante sentindo saudades. E querer
voltar. Também não tenho esta flor.
Quem dera
ter uma flor escondida nas distâncias do mato, quase oculta pelas folhagens,
mas de tamanha beleza que o seu encontro se pareça mais com aquele amor
desejado e somente na luta encontrado. Também não tenho esta flor.
E na
loucura da vida vã, no desespero de querer algo que me alegre os olhos e o
coração, eis que me vi adiante de uma flor de plástico, ou uma imagem já quase
sem cor e empoeirada sobre a mesa. Não tinha outra flor.
Só tenha
esta flor, a flor de plástico na solidão de um jarro. Eu queria a rosa
vermelha, eu queria a rosa mais bela, eu queria um jardim de rosas, para numa
só flor dizer e mostrar todo o meu amor. Mas diante de minha solidão apenas a
flor de plástico. O que fazer, então? Limpar, lavar, cuidar da flor de
plástico.
Novamente
colocada no jarro sobre a mesa, então sentar na cadeira de balanço na sala
escurecida e ficar dizendo a mim mesmo, enquanto meus olhos a ela voltam: A
gente ama o que está perto e não se esconde, não foge da gente. A gente ama o
que pode ser alcançado pelos olhos e o coração. A gente ama o que pode beijar e
tocar com as mãos. A gente não ama a flor por ser flor, mas a gente ama a flor
por nos despertar o amor, ainda que seja de plástico.
A gente
ama a flor de plástico e a flor do jardim. Mas se a flor verdadeira vá se
tornando apenas uma ilusão perante o desejo de tê-la sempre ao lado, então não
há como renegar o amor que se mostre fiel e leal, afetuoso e meigo, presente na
flor de plástico.
E é a flor
que tenho. A flor de plástico é a flor que tenho aqui, aqui juntinho de mim. A
flor que me olha e me lança uma aura de confiança e paz. E por isso que amo a flor de plástico.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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