*Rangel Alves da Costa
Já tive
carro. Um Baja de vermelho forte, chegando ao vinho, com pneus potentes,
grandes e todo reformado para embelezamento. Meu fusca tinha até nome: Douglas.
Ai se meu fusca falasse!
A verdade
é que Douglas fez moda em Poço Redondo, no sertão sergipano, e região. Muitos
amigos ainda recordam das peripécias e aventuras naquele carro. Eles mesmos -
os amigos - muito aprontaram com o meu carro e dentro dele.
Festeiro
que só, não havia festança em Monte Alegre, Glória ou Porto da Folha, pra que o
turbinado não riscasse por lá. E chegando era logo reconhecido pela imponência
do carango possante.
Mas o
motorista não era muito bom não. E não era bom porque era eu o tal do motorista.
Na verdade, eu nunca fui bom de volante, de freio, engrenagem, marchas e coisa
e tal.
Certa
feita eu até virei um Fiat (de Givaldo) bem no local mais perigoso da ladeira
de Canindé, município vizinho a Poço Redondo, descendo em direção ao rio. Ladeira
tão perigosa que o seu histórico de tragédias se avolumava.
O volante
não me atendeu e foi virar bem do lado da serra, pois se fosse para o outro
lado só Deus sabe o que teria acontecido. Sem saber o que fazer, apenas
coloquei toda a força nas mãos tentando levar o carro na direção do pé da
serra.
A direção atendeu,
mas no impacto virou. O carro de pneus para cima e eu - ainda sem sentir
qualquer dor - simplesmente sentado ao lado e à espera que algum veículo
passasse. Lá mesmo o carro foi vendido para o ferro velho.
Mas com
Douglas foi diferente. Andei saindo fora da pista, mas nada grave. Andei dando
barbeirada que só. Tinha gente que se soubesse que eu era o motorista não
entrava nele de jeito nenhum.
Nunca foi
bom de volante mesmo. Ser motorista é algo que não combina comigo de jeito
nenhum. Outra vez, parei o carro no meio da rua, numa parte mais descida, e já
ia saindo quando percebi o fusca em movimento.
E olha só
a besteira que fiz: tentei para o carro com o pé. Isso mesmo. Coloquei o pé
esquerdo embaixo do pneu que ainda hoje tenho marcas do estrago efeito. Só
parou no meio-fio.
Era o
carro seguindo sozinho e eu com o pé machucado olhando e sem poder fazer nada.
Mas sinto saudades dele. Era um amor de verdade. Ainda recordo que dormi dentro
dele assim que o adquiri. Dormiria novamente acaso ainda estivesse comigo.
Hoje é
apenas uma boa recordação. Mas logo estarei com outro carro. Não um fusca, e
sim outro carro que seja como um cavalo bom, pois todos os finais de semana
estará cortando estradas e veredas em busca do melhor que há no sertão: as
pessoas simples, humildes, e suas vivências nos afastados da cidade.
É pra isso
que quero e tanto preciso de um carro, um meio de me aproximar e conviver ainda
mais com o sertanejo do campo, porteira adiante, debaixo da varanda, bebendo
água de moringa e me deliciando do doce da palavra. Mas aviso: não serei o
motorista.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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