*Rangel Alves da Costa
Lá em riba o faiscamento do raio, o rimbombar
do trovão, e pelos arredores a ventania em açoite de não acabar mais, as
folhagens esvoaçando, o mundo parecendo que vai desabar de vez. “Valei-me, São
Jerômio”, grita um. “Cuida nóis, São Pedro, acuida pruquê a coisa tá feia!”. “Corre
Prucina, corre, se avexe pra cobrir os espeio e tudo que alumiá!”. “Marilda
muié, se achegue aqui com uma cuia que é pra botar nessa goteira que tá encheno
a casa todinha d’água!”. “Ave Maria, todos os santo do céu, meu Jesus guardião,
tenha dó e piedade nessa hora de relampo e de trovão e num deixa que nóis se
aperreie mai do que já vive aperreado. Afasta de nóis o raio, afasta de nóis o
trovão, afasta de nóis as faísca de todo mal que venha na tempestade. Em nome
de Deus, amém pra nossa sarvação. Amém!”. Mesmo sendo dádiva sagrada ao sertão,
a chuvarada também causa muito estrago e temor. E se é tempestade então, é um
deus nos acuda de não acabar mais. Gente entrando debaixo da cama, gente tremendo
feito vara verde, gente se enchendo de garapa, gente desmaiando pro cima das
poças d’água. Assim no sertão, assim quando a tempestade é grande no sertão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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