SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quarta-feira, 10 de julho de 2019

Palavra Solta - aquele sertão em dias de tempestade...



*Rangel Alves da Costa


Lá em riba o faiscamento do raio, o rimbombar do trovão, e pelos arredores a ventania em açoite de não acabar mais, as folhagens esvoaçando, o mundo parecendo que vai desabar de vez. “Valei-me, São Jerômio”, grita um. “Cuida nóis, São Pedro, acuida pruquê a coisa tá feia!”. “Corre Prucina, corre, se avexe pra cobrir os espeio e tudo que alumiá!”. “Marilda muié, se achegue aqui com uma cuia que é pra botar nessa goteira que tá encheno a casa todinha d’água!”. “Ave Maria, todos os santo do céu, meu Jesus guardião, tenha dó e piedade nessa hora de relampo e de trovão e num deixa que nóis se aperreie mai do que já vive aperreado. Afasta de nóis o raio, afasta de nóis o trovão, afasta de nóis as faísca de todo mal que venha na tempestade. Em nome de Deus, amém pra nossa sarvação. Amém!”. Mesmo sendo dádiva sagrada ao sertão, a chuvarada também causa muito estrago e temor. E se é tempestade então, é um deus nos acuda de não acabar mais. Gente entrando debaixo da cama, gente tremendo feito vara verde, gente se enchendo de garapa, gente desmaiando pro cima das poças d’água. Assim no sertão, assim quando a tempestade é grande no sertão.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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