*Rangel Alves da Costa
Amigos e amizades são temas que possuem
aparência compreensível demais, mas cujo aprofundamento revela feições bem mais
delicadas. Ter um amigo não significa ter sua amizade. Amizade é interior,
enquanto o amigo pode estar apenas exteriormente. Por consequência, a amizade é
algo muito mais difícil de ser conquistado do que um amigo.
A amizade se mantém, não se detém. Mas só se
consegue manter amizade quem também sabe manter uma necessária distância do
amigo. Amizade em demasia acaba provocando expectativas que nenhum amigo poderá
sempre retribuir. E na falta da sempre esperada retribuição, logo o desgaste e
o distanciamento.
Erroneamente, pessoas confundem amizade com
cumplicidade, com confessionário, com revelações de toda a sua vida e todo o
seu viver. Nem sempre confiam em familiares ou em pessoas de mais idade que
estejam aptas a ouvir e aconselhar, mas tudo revelam às amizades,
principalmente àquelas mais recentes. Ora, as recentes amizades mais parecem
descidas do céu. Um erro. Um grande erro.
Amizade não se contenta em apenas fofocar, em
revelar segredos amorosos, em dar as mãos para farras, bebidas, noitadas.
Pessoas assim até se tornam íntimas, mas não amigas. Isso ocorre muito nas
novas amizades. E amizades novas geralmente surgem entre pessoas que não tinham
proximidade, pouco se falavam, pouco se conheciam. E por que, de repente, essa
pessoa se torna a pessoa mais acreditada no mundo?
Logicamente que mais um erro no que se tem
por amizade. Na verdade, determinadas amizades surgem como entrega absoluta
entre pessoas praticamente desconhecidas. E se já conhecia, por que não nutriu
amizade? É algo surgido como fantasia, como encantamento, como verdadeira
magia. E logo será dito que Deus no céu e a amiga na terra. Uma pessoa
conhecida de poucos dias e já tornada a mais importante do mundo. E não raro
que logo vem o coice e a queda.
Toda amizade vai sendo construída no tempo e
mantida na confiança. Não existe amizade de momento. O amigo sempre é, sempre
está, sempre permanece. Por isso mesmo que é fácil perceber o que motiva uma
amizade duradoura. As pessoas não se traem por que se confiam, as pessoas não
se usam por que se respeitam, as pessoas já se conhecem de tal modo que cada
uma conhece muito bem os limites.
Não é necessário que a todo instante a
amizade vá sendo demonstrada. Ótimas amizades existem que até pouco se
encontram, pouco se falam, mas cuja força é percebida em determinados e
difíceis momentos da vida. O bom amigo chega na hora da necessidade, da
precisão. Mas a amizade nutrida na intimidade não tem esse compromisso. A intimidade
apenas busca um proveito pessoal, de segredos e revelações, mas não de estender
a mão e até fazer sacrifícios quando o outro necessitar.
A amizade nutrida apenas na intimidade é de
fragilidade tamanha que amanhã poderá se tornar em inimizade de fogo a sangue.
Por quê? Ora, pelas fofocas, pelas conversinhas, pelas revelações, pelas
traições. E bem feito que assim aconteça. Há gente que prefere acreditar no
desconhecido a ter confiança naquele que sempre esteve ao lado, que já conhece
seus atributos de caráter e honra.
Tudo pode acontecer. Pessoas existem que não
são amigas nem de si mesmas. E estas não servem para fazer amizade com
absolutamente ninguém. Contudo, não é fácil perceber. Resta ler as muitas ou
poucas páginas de sua história e observar se prefere andar com lobos ou
cordeiros.
Nunca espere, contudo, que sua vida dependa
de um amigo. Nunca se sabe o que virá. Aquele que se mantem oculto de repente
chega para servir muito mais que o outro ali ao lado, que sempre se disse à
disposição. Assim acontece pelo fato de ser sempre mais fácil dizer do que
fazer. Na hora da necessidade, então se pergunta aonde foi aquele que estava
ali.
Contudo, é preciso acreditar nas pessoas.
Também necessário que as pessoas creiam na existência de grandes e verdadeiros
amigos. Ao menos para fazer valer a beleza dos versos da canção: “Amigo é coisa
pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração...”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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