*Rangel Alves da
Costa
Segundo o
Gênesis bíblico, no sexto dia Deus criou o homem e a mulher. Distinguiu, pois,
as espécies segundo o sexo. Contudo, o passar dos anos, e para efeito de
indicação do ser ou espécie humana, os sexos feminino e masculino deram lugar
apenas aos termos homem, sujeito, pessoa ou indivíduo. Tanto é assim que o
substantivo homem, dentro de determinado contexto, serve para indicar tanto o
homem propriamente dito como a mulher.
Pois bem.
Tal introito tornou-se essencial no sentido de reconhecer o poder humano de
transformar o dado em algo desejado. Desejou que o termo homem passasse a
designar o ser humano em geral, bem como criou outras nomenclaturas para
designar a existência de seres humanos espalhados mundo afora. Daí se falar em
agrupamento, em coletividade, em sociedade. O ser humano, assim, passou a se
disseminar segundo contextos diversificados.
Contudo,
os novos conceitos, nomenclaturas e designações, bem como a tendência cada vez
maior de ver os seres humanos como uma totalidade, no amplo contexto social,
não tiveram o condão de ofuscar a importância do ser individual, daquele ser
nele mesmo, com suas aptidões. Um ser sem nome, pois apenas em ser em sua
plenitude. E a todo instante cresce a importância desse alguém sem nome. Aquele
alguém existente em cada um.
Esse
alguém sem nome, que é o próprio homem em sua plenitude, está evidenciado em
cada ser humano existente na face da terra. E sem nome porque apenas pessoa, e
pessoa humana, podendo ser homem ou mulher, menino ou velho, pobre ou rico, de
qualquer raça ou cor, habitante de qualquer lugar. Eis que nesse contexto o que
importa e merece ser valorizado é a pessoa em si, aquele alguém sem nome
identificável, porém tão reconhecível pela sua existência.
Esse
alguém sem nome forma a sociedade, está nas regiões mais distantes, nos centros
urbanos, nos subúrbios e arredores. Trabalha para o progresso, labuta para
sobreviver, se esforça para subsistir. Acorda na madrugada, se sacrifica para
chegar ao trabalho, bate o ponto, anseia para ouvir o apito sinalizando o fim
da jornada do dia. Também se entrega ao trabalho no campo desde o amanhecer,
planta, colhe, e esperançoso suporta e consegue vencer os sacrifícios da vida.
Esse
alguém sem nome também está nas esferas de poder, nos governos, nos órgãos de
mando, mas do mesmo modo encontrado nos barracos das favelas, nos submundos dos
lixões, embaixo de marquises, pelas esquinas e ao relento. De família nobre ou
apenas mais um de uma origem qualquer, nada disso importa, pois no contexto
social todos devem ser reconhecidos na igualdade do ser humano. Por isso apenas
pessoa, gente, ser humano, ou um alguém sem nome.
Esse
alguém sem nome sou eu e é você. Somos nós. Esse alguém sem nome é aquele que
lhe diz não e outro que lhe diz sim; é o amigo e o desafeto; é o parente ou o
desconhecido. Não precisa sequer saber da existência do outro, pois sabendo que
existe em algum lugar, pois cada um que agora está no seu afazer, na sua lida.
E é preciso acreditar que todos, enquanto seres humanos, são igualmente
importantes, ainda que apenas um indivíduo vivendo na solidão de uma ilha.
E esse
alguém sem nome possui tamanha importância que poucos já tiveram a capacidade
de analisar e reconhecer. Eis que ninguém sozinho faz importantes
transformações, impulsiona uma revolução, faz uma manifestação para mostrar
indignações, ou mesmo modifica qualquer coisa de forma duradoura. Sempre
necessitará de apoio, da ajuda do outro, ainda que apenas como agente passivo
da ação.
Esse
alguém sem nome estava em cada um que já fez a guerra. Estava nas lutas
renhidas pelos processos de independência das nações. Estava segredando
revoltas nas escuridões dos porões. E também está, neste momento, traçando
alianças, discutindo os destinos dos povos, agindo em nome do poder e em nome
do futuro dos todos. Daí que o alguém sem nome pode ser um general, um
governante, um líder, uma pessoa qualquer. E sem nome porque qualquer pessoa
poderá um dia estar incumbido da tomada de decisões.
Disso tudo
decorre a certeza da importância de cada um, de cada ser humano. Se é tido como
um nada hoje, amanhã poderá ser diferente. Exsurge, assim, a necessidade da
valorização de todos, e independente do que seja ou do que faça. Alguém
desconhecido poderá se tornar presença constante na vida, alguém cuja humildade
e singeleza de vida não mereça mais que um olhar passageiro, este talvez traga
consigo a sabedoria tão importante de ser ouvida e seguida.
Daí a
importância desse alguém sem nome, que é a importância de cada ser humano existente
na terra. E por isso mesmo não se deve subjugar, discriminar ou desvalorizar
quem quer que seja. Todos são importantes naquilo que fazem. Mas principalmente
por ser humano, por ser um igual.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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