*Rangel Alves da Costa
O tempo quente e abafado, o clima seco, o céu
aberto de azuladas nuvens, o sol sempre chegando forte e se espalhando pelos
quadrantes, tudo isso, segundo a meteorologia, prenuncia uma mudança intensa
climática. E logo – e sempre – apareceu Overland Amaral, o homem do tempo
sergipano, para dizer que não tardaria a ter muita chuvarada desde o beiral da
praia à mais distante fronteira. Com efeito, tudo foi se confirmando à medida
que o tempo nublado foi chegando e trazendo consigo meio mundo de molhação. Alegria
ao sertanejo, mas também muitos problemas.
Muita chuva, muita água caindo por todo
lugar. Desde o litoral ao sertão, o que se teve nos últimos dias foi um
verdadeiro abrir de torneiras sem fim. As nuvens prenhes, gordas, muitas,
deixaram-se derramar de forma intensa e continuada. Por consequência, as
precipitações chuvosas acima da normalidade para o período, causando enxurradas
e alagamentos, inundações e desabamentos, além de outros problemas que o outro
e os administradores nunca estão preparados para enfrentar.
Não só em Sergipe como em outros estados
nordestinos, conforme as notícias repassadas a todo instante, as águas também
caíram fortes e muitas. Ao lado do sertão sergipano, na região baiana de Pedro
Alexandre e Coronel João Sá, as chuvaradas foram tão fortes que uma barragem
transbordou e deixou a povoação em pânico, com vias completamente alagadas,
famílias desabrigadas e localidades até ilhadas. E após as chuvas e os
transbordamentos, certamente que a volta à normalidade vai requerer muito esforço
e sacrifício.
A capital sergipana, que nunca está preparada
para receber duas cuias de água, logo parece em correnteza quando as nuvens
derramam seus pingos. Áreas que sempre alagam e se tornam intransitáveis ante
qualquer chuvarada, nas chuvas seguintes – e ano após ano – apresentam o mesmo
problema, como se a gestão municipal achasse que basta que o sol saia e as
águas escoem e tudo já estará resolvido. Em Aracaju nunca houve uma política
séria para resolver os problemas das constantes inundações em pontos já
reconhecidos como críticos.
E as águas muitas caídas fazem somente
alertar para um problema desde muito existente. Os serviços de emergência, a
exemplo da defesa civil, logo entram em prontidão, quando deveriam apenas fazer
o monitoramento. Mas não, pois a cada chuvarada se prontificam a resolver um
caos situações preexistentes de caos. Ademais, as mesmas ruas, as mesmas
esquinas, os mesmos canais, e toda localidade onde já se saiba que não suporta
aquelas duas cuias de água, novamente apresentarão os mesmos problemas. Será
que imaginam que nunca vai chover, que nunca vai cair uma chuvarada mais forte?
De qualquer modo, é a população aracajuana
que sempre tem de suportar tais incoerências de gestão. Será que custa mais de
dois sacos de dinheiro realizar os devidos reparos ao menos naquelas
localidades onde, a cada chuva mais forte, os problemas se repetem? Quando
cessam as precipitações e o sol vai aparecendo, então as mãos do poder se
elevam para agradecer pela saída da pedra quente de suas mãos. E daí parece
imaginar que o sol é a solução para tudo. E que o sol vai desentupir bueiros,
vai limpar as imundícies dos canais, vai acabar com o lixo que atravanca as
boca-de-lobo e as tabulações da cidade.
Noutros recantos do estado, ainda que os
mesmos problemas existam, as chuvaradas acabam se transformando em motivos de
muito mais alegrias do que aborrecimentos. As roupas sempre molhadas nos varais
são menos desgastantes que as ruas alagadas e águas tomando as dependências das
casas. As pingueiras e goteiras são mais suportáveis que as ruas impedindo a
passagem pelas águas acumuladas. As portas e janelas quase sempre fechadas são
muito menos preocupantes os buracos que vão se acumulando e causando perigo aos
veículos e transeuntes. Diferente do que geralmente ocorre na capital, as
chuvaradas são sempre bem-vindas aos interioranos, principalmente aos
sertanejos.
O sertanejo sempre sonha e sempre espera por
chuva grande, alentada, que caia forte e constante, mesmo sabendo que a chuva
mais compassada a que possui maior serventia terra e à plantação. O desejo de
chuva forte vem pela necessidade de novamente ter os tanques e açudes cheios,
os campos verdejantes, as esperanças sempre renovadas. Na mente de cada
sertanejo, a cada pingo caído uma sensação boa de menos humilhação, menos
sofrimento e muito mais certeza de comandar seu próprio destino. E diz a si
mesmo que graças a Deus, e por muito tempo, não vai se ajoelhar perante o
político atrás de água para matar a sede do bicho e de sua família.
Certamente uma festa ao coração a cada chuva
caída. O coração sertanejo pulsa mais forte, seus olhos brilham de alegria,
seus braços se elevam em agradecimentos. Com tanques e açudes transbordando,
com riachos e rios tomados de água muita, com as plantas vicejando e a terra
boa a tudo, então a vida se torna repleta de alegrias e felicidades. Ao menos
durante o período chuvoso e até um pouco mais adiante, sempre outra feição de
vida no difícil viver sertanejo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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