*Rangel Alves da Costa
O Jacaré é
um curso d’água que um dia permitiu que o nome “Poço Redondo” houvesse surgido.
E ladeando a cidade continua em fraquejantes suspiros.
Num tempo
de seca grande e de falta de água nos açudes e tanques, era no leito do Jacaré
que o bicho era levado para enganar a sede.
Apenas
enganar a sede, pois a água salobra (ainda que chegasse límpida e pouco salgada
das entranhas do rio) apenas minimizava, mas não resolvia a situação.
Então,
quando o dono do pequeno e magro rebanho passava, o compadre adiante perguntava
aonde ele ia.
E então a
resposta: “Vou ali no poço redondo!”. E Poço Redondo ficou. Era um leito de
muitos poços, bastando cavar um pouco para água logo brotar em meio ao areal
grosso e limpo.
Contudo,
um se sobressaía, que era maior, mais arredondado, com mais água jorrando,
local ideal para que o bicho ao menos enganasse a sede.
Este mesmo
Riacho Jacaré de tanta história e tanta memória, tão belo e grandioso nas
grandes cheias, continua ladeando a cidade de Poço Redondo. Mas de forma muito
diferente de outrora.
No
passado, depois de três águas seguidas, as águas já estavam propícias ao banho.
E uma multidão acorria às pedras grandes e aos poços famosos para o lazer
debaixo do sol.
Ouvir a
chegada das águas em correnteza era sensação de prazer indescritível. Nas noites
molhadas, chuvosas, e ao lado da cidade aquela orquestra murmurante e atraente.
Era como a
vida fosse renovada a partir de cada cheia do riacho. As águas velhas, os
troncos apodrecidos e as ossadas, tudo levado adiante. E as águas novas fazendo
renascer a vida e as esperanças sertanejas.
Mas tudo
num tempo que é apenas de saudade. Hoje o Jacaré sofre a mesma dor humana em
enfermidade. Uma dor visível em quase toda a sua extensão, principalmente nos
arredores da cidade.
O rio está
feio, doente, sujo, maltratado, abandonado e açoitado pela mão humana. Quando
as águas escasseiam, apenas poças apodrecidas e doentias são avistadas ao redor
dos quintais e dos cercados.
Como dito,
uma doença causada pela ação humana que despeja esgotos, óleos e outros
resíduos de posto de combustível, que vai fazendo do leito uma lixeira a céu
aberto.
Por consequência,
mesmo as cheias grandes já não conseguem limpar as águas, afastar as impurezas
que são massivamente acumuladas. E por isso mesmo, as águas avistadas do alto
da ponte chegam a ter uma cor escura, grossa, repleta de perigos à saúde
humana.
Do alto da
ponte, tanto de um lado como do outro, imagina-se a existência de água. Mas
não. É apenas a líquida e doentia podridão que vai escorrendo em gemidos sem
fim.
Eis o
retrato de um rio triste, de um rio que passa pela minha aldeia. Entristecer
junto a ele, apenas. Ou implorar aos céus que as forças da natureza, por si
mesmas, retomem a pujança que o homem tanto insistiu em destruir.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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