*Rangel Alves da Costa
Segundo os livros, garrancho é um ramo
tortuoso da árvore. É um arbusto tortuoso, um graveto. É um ramo quebradiço e enviesado
de um arbusto.
Garrancho, pois, é o pau torto, emaranhado em
si mesmo. É o resto de madeira ressequida, acinzentada, já fragilizado, já
prestes a ser consumido de vez.
Galhagem que outrora se fez verdosa, forte,
pujante, o garrancho é a própria madeira se findando na existência.
Enfraquecida, facilmente é arrancado ou cai até pela ventania.
Ao se transformar em graveto, a galhagem já
se despiu da existência. Ou a chuva ou sol cuidará de seu fim. Ou mesmo a pata
de um animal ou a mão humana que a tudo destrói.
Muitas vezes, para antecipar o fim do
garrancho, para acabar de vez com sua existência, a pessoa simplesmente o
utiliza para acender fogo de lenha.
Como o garrancho está sempre seco, a sua
combustão é imediata. Quer dizer, um pedaço de pau, um ramo de árvore, agora
com serventia apenas de acender outra madeira.
Basta um palito de fósforo sobre o graveto
para que o fogo logo comece a queimar, a se tornar em labareda. Mas tão frágil
é o graveto que logo é totalmente consumido.
Consumido e tornado em cinzas. Com a tora de
madeira, pedaço de tronco ou pedaço mais alentado, é diferente. Tanto dura para
queimar como para se tornar em carvão.
Sim, pois dependendo do tamanho do tronco,
nem sempre as cinzas restarão depois do fogaréu. Torna-se carvão e este
servindo para ainda acender e ter muita serventia.
Mas o garrancho é de combustão mais que
certa. Depois de queimado, somente as cinzas restarão. E cinzas tão frágeis que
logo o vento cuidará de seu total desfazimento.
Uma simbologia grandiosa. De certa forma, o
graveto simboliza a própria existência humana e sua fragilidade. Simboliza o
que o ser humano se torna depois de sua pujança.
Homem árvore, homem tronco, homem galho
forte, inquebrantável. Mas depois? Depois tudo se transformando em garrancho,
em graveto, num quase nada de existência.
Tudo como um outono que chega ressecando
tudo. As galhagens fortes ainda suportam as dificuldades da estação. Mas outras
não. A idade, os anos, logo ressecam tudo.
Assim como num poema frágil, acinzentado e de
curta existência:
No verdor dos anos
com a seiva da existência
com flores e frutos
os galhos das árvores pulsam
como se nada amedrontasse
até que chega um outono
até que chega um medo
ao sentir ressecando
e por dentro morrendo
até cair ainda pulsando vida
e já não será mais árvore
nem parte de seu tronco
pois somente a frágil linha
que se dissolve em si mesma
e em cinzas repousará
à espera do sopro do vento
e do adeus sem lágrimas.
Sem adeus e sem lágrimas, pois nada mais que
um garrancho, que um graveto cujos dias se transformaram em cinzas e pó.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário