*Rangel Alves da Costa
Hoje, ao
por do sol de 2018, numa quarta-feira entristecida, Poço Redondo se despede de
um de seus maiores vaqueiros: Rivaldo de Janjão.
Homem da
terra, cheirando a mato, de reconhecida dignidade sertaneja, caracterizou-se e
sempre foi reconhecido pela sua vida voltada à vaqueirama, à vida de gado,
fosse como vaqueiro ou como afoito corredor de boi valente no mato.
Rivaldo
foi tido até como invencível na vida vaqueira, pois não havia boi brabo, bicho
valente nos carrascais catingueiros, que ele não se desincumbisse da pega.
No seu
famoso cavalo “Veadinho” ou mesmo no “Novo Brinco”, Rivaldo ajudou a escrever as
mais belas páginas da cultura vaqueira de Poço Redondo.
A geração
vaqueira da qual Rivaldo fez parte era espetacular e se equiparava aquela de
Tião de Sinhá e Abdias. Assim surgia no cenário das caatingas com todo fulgor
os nomes de Rivaldo de Janjão, Elias de Tonho Gervásio e Sebastião de Timbé.
Famoso
vaqueiro da Queimada Grande, logo se tornou amigo fiel de outro grande
vaqueiro, proprietário de terras e abnegado à vida de gado: José Ferreira Neto,
o famoso Zé Ferreira de Major Izidoro, nas Alagoas, mas que abraçou Poço Redondo
com seu imenso e generoso coração.
Rivaldo
também vaquejou, ao lado de Elias de Tonho Gervásio, na Fazenda Cuiabá, na
vizinha Canindé de São Francisco.
Conforme
assinalou Alcino em seu livro “Vaqueiro, Cavalo e Boi”: “Rivaldo e Elias eram
dois vaqueiros completos. Em cima de uma sela e enfiados nos carrascais mais
brutos da mataria, eram verdadeiros campeões. Na ‘unha’ daqueles dois heróis,
boi brabo da Cuiabá em vez de esturrar ‘piava fino’ – diziam orgulhosos os seus
patrícios do antigo lugarzinho de Luís da Cupira. Os cavalos de campo de
Rivaldo eram o Veadinho e o Novo Brinco e o de Elias era o Azulão, ambos vindos
com eles de Poço Redondo... Perde-se o número de reses que Rivaldo e Elias
pegaram nas carreiras desembestadas daqueles cerrados do bom-nome, do cipó de
leite, da macambira e do croatá. A saga campeira desses dois heróis sertanejos
está viva na mente de muitos dos que ainda resistem à ação demolidora do tempo”.
Quando
ninguém conseguiu pegar o famoso boi Vaga-lume das caatingas da Fazenda Cuiabá,
outro vaqueiro não foi pensado senão no filho de Seu Janjão. E Rivaldo
desafamou o bicho de vez, pois bastou uma carreira e o bicho já estava
enlaçado.
E já
afastado da vida vaqueira, já lanhado de tempo e luta, Rivaldo era sempre
avistado pelos arredores da Praça Eudócia (Praça do Redondo) ora sentado numa
calçada, ora em breve proseado sertanejo.
Conversava
pouco, pouco dizia sobre o que podia dizer no seu imenso livro sertanejo. Um
livro de vaqueiramas, de aboios, de espinhos e pontas de paus sendo vencidos,
de bichos brabos sendo derrubados.
Mas hoje
Rivaldo deu seu último aboio e se despediu. Foi vaquejar nas estrelas, foi
campear no firmamento, junto ao Pai Celestial.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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