*Rangel Alves da Costa
Após os anos 40, Cândido Portinari, um dos
maiores mestres da pintura brasileira, deu início a uma série de expressivas aquarelas
que espelhavam a realidade social brasileira e, mais de perto, a nordestina.
Exemplo disso, em 1944 surgiram as famosas e demasiadamente realistas telas
denominadas “Os Retirantes”. Nestas, tão conhecidas, uma família pelas estradas
áridas, secas e espinhentas, fugindo das aflições de um mundo de dor e
sofrimento. Ante a fidelidade dos retratos pintados, sequer precisaria dizer
mais alguma coisa. Ali a família fugindo da seca, tão esquelética e triste
quanto o seu próprio mundo desfolhado e seco. Ali a família tendo que arribar
de seu mundo e seguindo em desvalia pela incerteza das estradas. Ali o fiel
retrato da desvalia nordestina ante a estiagem devoradora de tudo, lançando ao
desalento vidas de todas as idades. O que se teme, com os avanços sempre
inevitáveis das secas, é que tais pinturas sejam novamente retratadas em
cenários melancolicamente vivos pelas estradas sertanejas. Famílias que partem,
mundo que fica. E sem um olhar para trás. Não há mais lágrima. A estrada,
apenas.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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