SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Palavra Solta – solidões



*Rangel Alves da Costa


Ouço ecoar a canção de Alceu Valença: “A solidão é fera, a solidão devora. É amiga das horas prima irmã do tempo. E faz nossos relógios caminharem lentos, causando um descompasso no meu coração. A solidão dos astros. A solidão da lua. A solidão da noite. A solidão da rua...”. Solidões de sóis sertanejos por detrás das portas e janelas dos casebres tristes. Naquilo onde havia vidas e afazeres, nas malhadas onde havia bichos e correrias, nos quintais onde havia varais e canções, agora somente o silêncio desolador e as ausências sem despedidas. Solidões que avançam pelos caminhos empoeirados, que correm apressadas pelas veredas de espinhos ressequidos, que abrem cancelas e tomam como suas as vidas e os sonhos. E tudo fazem para que o homem e o bicho se prostrem por cima da terra seca à espera dos urubus, carcarás e gaviões. Solidão e solidões em tudo e por todo lugar. Na terra nua, na pedra esquecida no meio do tempo, no curral sem bicho e sem vida, na cancela que já não range mais, na porteira que silenciou o seu bater, na porta e na janela fechados, na vassoura esquecida num canto, no cesto de juntar palma cortada. Solidão tão minha, e como estou agora.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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