*Rangel Alves da Costa
Sim, tudo
pode mudar. Nada é estático, imutável, tanto rocha e tanto pedra, que não possa
haver uma forma ou um meio de transformação. Basta reconhecer e agir para
modificar.
As nuvens
caminham, o sol andeja, a lua vai de canto a outro. Aliás, nada será
transformado sem que haja ação no seu estado natural. A mudança é essencial em
tudo.
Mas tudo
só muda quando há a percepção de que existem outros caminhos. Estradas e curvas
de repente surgem como a dizer que o passo poderá seguir por outro lugar.
Nenhuma
estrada tem início e fim sem que curvas e veredas se apresentem como opções de
seguir. Cabe ao indivíduo buscar a melhor saída, trilhar pelo que desejar.
Há
múltiplas possibilidades em tudo. Tem gente que não caminha debaixo do sol nem
da chuva. Mas aquele que precisa chegar vai vencendo todos os desafios que se
apresentam.
Sim segue
pelo sol, mas de repente o sol se põe, a nuvem vem, a chuva chega. O que fazer,
então? Seguir em frente sem medo e sem arrependimentos, construindo logo a
chegada.
Na dúvida,
ainda a possibilidade de ouvir mais a si mesmo, de refletir um pouco, de
decidir somente quando já esgotados os espantos, os empecilhos, os medos e os
pessimismos.
Perante
tal situação, a certeza de que o ser humano não teve temer fazer o mesmo com o
pensamento. Pensar e repensar, rever o pensamento, reorientar-se. Mais difícil
errar assim.
Tais
questões envolvem muito mais. A fruição do pensamento de repente coloca o ser
em cima da montanha da filosofia. E então sente que tudo é mais profundo do que
imagina.
E vai
indagando e procurando respostas para as coisas mais simples e mais complexas,
para as realidades e as ilusões, para o que apenas supõe existir. E as
respostas vão surgindo.
Quando
passou um pedinte e depois mais outro, mais outro e mais outro, sempre cada vez
mais famintos e magros, então eu temi pelo destino dos homens.
Quando
minha avó deixou de me fazer cafuné e meu avô deixou de contar histórias do
outro mundo, e tudo entristeceu pela casa, então eu aprendi que a velhice
florescia demais.
Quando a
criancice se despediu, a meninice foi embora e a adolescência sumiu, então eu
resolvi parar de crescer e voltar a ser o que ainda estava presente dentro de
mim.
Quando a
nuvem não veio, a chuva não veio, o pingo d’água não veio, e tudo murchou e
tudo secou, então cavei mais o barro do chão até surgir um veio de esperança.
Quando eu
esperei a primavera e chegou o outono, e no lugar das flores apenas a secura da
solidão e a tristeza do silêncio, então molhei mais meu jardim e fiquei
esperando.
Quando
pedi que ela segurasse minha mão para seguir pela estrada e ela negou minha
proteção, então sozinho segui até ouvir o seu grito aflito desejando a mim.
Quando
cansei pela estrada e não encontrei nenhum sombreado e nenhuma guarita para
descansar, então caminhei mais ainda em busca do meu destino.
Quando
procurei a igreja e a encontrei de portas fechadas e procurei um altar e nada
encontrei que fosse santificado, então abri as portas do templo do meu coração
e orei.
Quando
minha vela de oração começou a se apagar antes do tempo e a minha oração era
esquecida antes do fim, então me ajoelhei e abaixei a cabeça para reencontrar a
minha fé.
Quando fui
jogado às feras, fui lançado aos lobos, fui arremessado às peçonhentas serpentes,
então esperei sobreviver e espantar as feras, os lobos e as serpentes, de toda
estrada.
Quando eu
amei e por esse amor me vi na ilusão de uma felicidade inexistente, pois amante
e desamado, então preferi sofrer na solidão até que o sorriso chegasse ao meu
coração.
Quando
abri a panela e nada encontrei de comida, revirei a despensa e nada encontrei
para matar a fome, então abri a porta para catar os grãos da sobrevivência.
Quando
bati à porta e ela não se abriu e chamei à janela e ela continuou bem fechada,
então sentei do lado de fora e esperei as coisas acontecerem.
Quando me
tomaram as vestes e lanharam minha pele, depois me jogaram ao relento e ao
frio, então simplesmente esperei o sol chegar.
Quando me
forçaram a ir até a beira do abismo e lá me empurraram beiral abaixo, então eu
abri minhas asas para voar.
Quando
levantaram a arma e apontaram o cano sangrento em minha direção, então eu,
mesmo de peito aberto, levantei meu escudo de proteção.
Quando
soltaram palavras de aleivosia e sobre a minha pessoa lançaram as desonras do
mundo, então eu silencie por saber de onde chegariam as respostas.
Quando me
dizem que tudo é assim mesmo, que tudo deve assim acontecer, então simplesmente
peço que leiam o Eclesiastes: nada é assim mesmo!
Quando
aprendi que nada é assim mesmo, então me preparei para buscar o novo toda vez
que o velho já não traga nenhuma transformação. E mudar sem medo. E nada temer.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário