*Rangel Alves da Costa
Cheguei não tem muito tempo do meu sertão
sergipano. Sempre estou por lá nos finais de semana, tanto por amor a terra como
por outros afazeres. O sertão está bonito, chuvoso, esperançoso. Com a terra
molhada e o tanque cheio, tudo se torna maravilhoso ao homem da terra. Contudo,
já é um sertão citadino demais, urbano demais, já insensível e desfimiliarizado
demais. Desde muito que sumiu aquela feição interiorana, de comadres,
compadres, companheiros e respeito de parte a parte. Ontem mesmo, uma senhora
muito importante do lugar faleceu. Era de família de nomeada, de reconhecido
valor entre os seus. Também era uma das vozes da igreja católica, uma das
andorinhas do Padre Mário, como se costumava dizer. A comoção foi grande prela
notícia, mas ao mesmo tempo a parafernália musical quase à sua porta. Enquanto
uns pranteavam, choravam a dor da perda, outros passavam bem à porta com as
malas abertas nos seus veículos e sons insuportáveis na maior altura. Talvez
até - ontem mesmo - tivesse havido alguma festa nas vizinhanças. Quer dizer,
ninguém respeita mais ninguém, é uma negação humana que só cabe nisto chamado
de progresso. Mas outra coisa não é senão a própria negação do outro pelo
outro. Lamentável. Mas assim acontece.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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