SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



domingo, 16 de dezembro de 2018

Palavra Solta - contrastes da vida



*Rangel Alves da Costa


Cheguei não tem muito tempo do meu sertão sergipano. Sempre estou por lá nos finais de semana, tanto por amor a terra como por outros afazeres. O sertão está bonito, chuvoso, esperançoso. Com a terra molhada e o tanque cheio, tudo se torna maravilhoso ao homem da terra. Contudo, já é um sertão citadino demais, urbano demais, já insensível e desfimiliarizado demais. Desde muito que sumiu aquela feição interiorana, de comadres, compadres, companheiros e respeito de parte a parte. Ontem mesmo, uma senhora muito importante do lugar faleceu. Era de família de nomeada, de reconhecido valor entre os seus. Também era uma das vozes da igreja católica, uma das andorinhas do Padre Mário, como se costumava dizer. A comoção foi grande prela notícia, mas ao mesmo tempo a parafernália musical quase à sua porta. Enquanto uns pranteavam, choravam a dor da perda, outros passavam bem à porta com as malas abertas nos seus veículos e sons insuportáveis na maior altura. Talvez até - ontem mesmo - tivesse havido alguma festa nas vizinhanças. Quer dizer, ninguém respeita mais ninguém, é uma negação humana que só cabe nisto chamado de progresso. Mas outra coisa não é senão a própria negação do outro pelo outro. Lamentável. Mas assim acontece.


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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