*Rangel Alves da Costa
Pesquiso muito sobre o fenômeno cangaço e de
vez em quando me vejo embrenhado naquele estranho, perigoso, sedutor e
misterioso mundo. Um mundo entremeado de sol e de chuva, de luas e breus, de
estradas e labirintos, de tocas e de tocaias, de noites sem sonos e dias
famintos. Bandos de bichos, bichos humanos, humanos aterrorizantes, simples
humanos. Pelos carrascais, por cima de espinhos e de pontas de pedras, em meio
aos tufos de matos, rompendo o mundo das catingueiras, aroeiras e mandacarus,
os passos ora apenas seguindo ora em correria por cima de tudo. Qualquer piado
um assombro, um aviso, um sinal. Qualquer barulho adiante já deve servir como
alerta. Olhos que caçam, que buscam, que adentram nas matas em busca dos sinais
inimigos. De repente um zunido mais forte, o mato se abrindo e o fim do mundo.
O inimigo chegou. Ou talvez nem estivesse por perto. Nesse mundo de sentinelas,
nada foge ao preparo para o ataque, o revide, a bala na bala. Ninguém parece
cansado, ainda que com o corpo todo estropiado. Não há como ser diferente, não
há lugar para a calma e o repouso longo. Os olhos que se fecham para adormecer,
de repente se abrem já mirando adiante. As mãos nunca descansam, o corpo nunca
se separa do peso das armas, das cartucheiras, embornais e punhais. Um peso
danado, mas o peso inseparável. E chegando o instante do rápido repouso, tudo
continuando ao lado por precaução. E os amores? Ao acaso, ao relento, com uma
mão num seio e outra no mosquetão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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