*Rangel Alves da Costa
Maria passa por mim e nem tem tempo de falar.
Corre tanto pra viver que se parar a panela fica fazia. Totonho só fala sozinho
e nem adianta chegar perto dele para prosear, pois fica numa mudez de pedra.
Cremilda chega logo abraçando, perguntando como vai, dizendo que pode pedir que
ela faz. Uma pessoa encantadora. Jeorina só anda chorosa, a bichinha. Dizem que
foi um amor desfeito lá no passado, deixando marcas tão profundas que até hoje
só vive a lacrimejar. Betônio até mudo de nome. Agora é Betânia, e segundo ele
(ela, agora), já estava cansado (cansada, agora) de fingir a si mesmo (a si
mesma, agora) e ao mundo. Segundo diz, desde cedo passou a sentir que nem gente
era, pois uma flor, um jardim, um perfume inebriante. E deu até pra se vestir
florido e rebolar feito flor ao entardecer em ventania. Pedro gosta mesmo é de
um balcão e de uma boa relepada de pinga. Cidreira, quixabeira, boldo, tudo de
cachaça é com ele mesmo. E gosta tanto da casca de pau que veemente se nega a
pingar uma gotinha na boca do santo que vive aos pés de todo balcão. Segundo
ele, santo não bebe, e ele sim. Conheço essas pessoas. Todas fazem parte do meu
mundo e do meu viver. Retratos de cotidianos e da vida tão comum dos dias.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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