*Rangel Alves da Costa
Amo a flor do mandacaru. Acho linda a flor do
mandacaru. Mas não sou a flor do mandacaru. E que triste sina a da flor do
mandacaru: nasce para morrer em seguida, tendo apenas a noite como sua companhia,
sem a luz do sol, sem as cores do dia. Não sou aquele que nasce numa noite e já
marcha ao primeiro sol da manhã seguinte. Talvez eu seja o próprio mandacaru.
Altivo, impávido, imponente, ainda que ao redor tudo esteja ressecado e triste.
Sim, sou o mandacaru. E sou mesmo o mandacaru. Em meio aos descampados, debaixo
do sol e das secas inclementes, de braços ao alto implorando por dias melhores.
Sou a sua prece e o seu dilema, o seu jeito grandioso de ser e a sua tristeza
íntima. Em muitas situações, quando jazem os arvoredos ao redor, quando tudo
esturrica e morre, apenas ele a velar as vidas que se vão. E pranteia sua
lágrima plangente e silenciosamente grita a desvalia do mundo. Pois eu sou este
mandacaru espinhento e triste, grandioso e solitário. Mandacaru que mesmo em
meio à desolação e a dor, faz brotar tão bela flor.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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