*Rangel Alves da Costa
Minha mãe
não está mais aqui. Meu pai também não está mais aqui. Muitas mães e muitos
pais também não estão mais aqui.
A mão que
lhe fez viver, o seio que lhe amamentou para crescer, a palavra que cuidou de
seu destino, talvez não esteja mais aqui. As mães infelizmente partem, dão
adeus para prantos sem fim.
Aquele que
lhe chamou de filho não está mais aqui, a força que tanto lutou pela sua
sobrevivência não está mais aqui, os braços que lhe colocaram no coloco talvez
não estejam mais aqui. Os pais infelizmente se vão, voam para não mais
retornar.
Somente na
perda a gente sente a falta que todos fazem. Somente depois das despedidas é
que a gente procura reencontrar aquele tempo já impossível de compartilhar. E
sempre chegam as dores das indagações, das perguntas interiores, dos lamentos
no coração:
Por que
não vivi mais as suas presenças, por que não compartilhei mais ao lado deles os
bons momentos da vida, por que não me dediquei mais com o amor de filho, por
que não tive tempo de demonstrar a verdadeira extensão do amor sentido?
A verdade
é que temos nossos pais como eternidade, como presenças constantes ao nosso
lado. Jamais imaginamos perdê-los, jamais nos chega a certeza de um adeus a qualquer
dia.
E por isso
mesmo que sofremos tanto depois da perda e das despedidas. E por isso mesmo que
choramos e que padecemos, que queremos a todo custo as suas presenças. Jamais
aceitamos totalmente perdê-los.
E por isso
mesmo silenciosamente passamos a refletir sobre os dias idos e não devidamente
vividos. Como uma estrada boa que vai ficando para trás, de repente queremos
novamente reencontrá-la. Mas quando já será tarde demais.
E cada um dizer
a si mesmo que desejaria tanto ainda deitar a cabeça no colo e de sua voz ouvir
as lições, que queria tanto levar uma xícara de café ao pai sentado em sua
cadeira, que desejaria tanto chegar com um presentinho singelo e dizer parabéns
minha mãe, que queria tanto avistar seus pais sentados à mesa e com eles
dividir cada pedaço de pão.
Mas já
impossível, pois já partiram. Fazer o que, então? Não adianta chorar perante os
retratos e as recordações. Não adianta querer também morrer pelas ausências.
Adianta viver, mesmo na dor, as lições que restaram.
E mostrar
a todos o valor de um pai e de uma mãe. E mostrar que num pai e numa mãe nunca
estão somente um pai e uma mãe. Mas seres que devemos amar, pessoas que nos
fizeram nascer, aqueles que sempre zelaram pelas nossas vidas.
E mostrar
a todos que os pais não são apenas aqueles que lhes dão um sobrenome, que abrem
a porta quando retornam nas madrugadas, que se preocupam com suas vidas, mas sim
a seiva que em tudo os alimenta. E que nos outonos da vida, tal seiva deverá
sempre permanecer viva pela certeza do amor ofertado e pelo amor recebido.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Lindo texto!
Acho que pais e mães são portais, e quando eles se vão, o portal fecha e ficamos desse lado aqui, olhando para uma parede onde havia uma passagem.
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