*Rangel Alves da Costa
A cada
final de semana que estou a Poço Redondo, eis que me chegam notícias de amigos
que se bandearam para as distâncias em busca de dias melhores, de um emprego
qualquer que lhes garanta algum sustento.
Verdade,
assim que chego vou perguntando por um e outro e as respostas são as mais
desalentadoras possíveis. Um foi tentar a sorte na construção de uma barragem,
outro foi trabalhar numa rodovia lá pelos fins do mundo, outro foi para São
Paulo respirar cimento e pó, outro foi para o Rio de Janeiro na ilusão de algum
ganho.
E assim os
jovens poço-redondenses vão deixando sua terra em busca de sonhos arriscados
demais. Mas não são sonhos, são necessidades, são extremas necessidades. Não é
fácil para um jovem subsistir e se manter onde não há qualquer tipo de emprego.
E principalmente quando o jovem é casado e tem uma casa e família para
sustentar.
Fazer o
que, viver de que? Pedir, esmolar? A verdade é que Poço Redondo não tem
garantido a seus filhos sequer o mínimo de esperança. Não há indústrias no
município, não há empresas de grande porte que garanta emprego, não há
movimentação alguma na construção civil, não há vagas no comércio, não há
emprego público, não há nada que possa sustentar o sertanejo no seu lugar.
O
município empobrecido, sem geração de renda nem suficiente circulação de moeda,
não possibilita sequer o surgimento de empregos temporários. O pequeno comércio
informal também é afetado pela falta de dinheiro no bolso da população. Por todo
o município, conta-se nos dedos o número de empresas e de comércios que
aproveitam a força de trabalho local. E é gente demais para tão pouca vaga,
para tão pouco emprego.
Muitos dos
que possuem empregos na prefeitura, por exemplo, não revertem seus ganhos
dentro do próprio município, e sim nas suas localidades de origem. Os
contratados locais, além do pouco ganho, sofrem atrasos e mais atrasos no seu
recebimento, forçando a geração de uma pobreza empregada.
Tudo isso
esvazia o comércio local, fecha portas, diminui as chances de surgirem novas
vagas. E tudo num círculo tão danoso que outra coisa não se vislumbra senão a
desesperança total e absoluta na maioria da população.
Também
desalentador o fato de que não se tem notícias que a administração municipal
faça algum esforço para mudar tal situação através da exploração das riquezas
históricas, geográficas e culturais, possibilitando o fluxo turístico, e
garantido emprego e renda para muitos sertanejos.
Ora,
Piranhas vive e sobrevive do turismo, e até das riquezas de Poço Redondo, e com
isso garante sua sobrevivência econômica. E por que Poço Redondo não age no
mesmo sentido? Canindé, bem ali ao lado, faz do turismo uma importante fonte de
renda e de garantia de emprego. E por que Poço Redondo não o faz? E dos
municípios citados, Poço Redondo se sobressai a todos, pois possuidor de muito
mais potenciais turísticos.
Através do
turismo, o ganho do artesão, do guia, do estradeiro, da doceira, do cozinheiro,
do ribeirinho, do dono do barco, do comércio em geral. Contudo, parece até
política de governo o desprezo total de um município e seu povo. Por
consequência, temos um Poço Redondo que só faz regredir no tempo, empobrecer
cada vez mais e deixar seu povo ao desalento, sem esperança alguma de dias
melhores.
E enquanto
isso, os jovens continuam indo embora, em sonhos cegos, em vãs esperanças. Os
sonhos continuam indo embora. Tudo vai sumindo, indo ao perigoso desconhecido.
Mas ficar seria ainda mais sofrimento. O autêntico poço-redondense nunca pediu
esmola a ninguém, ainda que a cuia já possa ser avistada em muita mão e em
muito olhar de tristeza. A verdade é que, infelizmente, no fundo do poço
estamos.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Um comentário:
Triste realidade...
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