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sábado, 26 de maio de 2012

DOCE DE COCO COM COCO (Crônica)

                          
                                                        Rangel Alves da Costa*


Nem imagine que há redundância, pois é isto mesmo que está escrito acima: doce de coco com coco. Não é com goiaba, com mamão nem com carambola, é com coco mesmo. É doce, doce de coco e com coco ainda por cima.
Não queria ter de explicar isso não, pois meu assunto aqui é outro, mas vou ter de tecer algumas considerações. Não é absurdo o que disse exatamente porque tem doce de coco que não é feito puramente com coco, mas essencialmente com leite de vaca e tendo o leito de coco e sua carne ralada apenas para dar o sabor. E sabor de coco, e daí geralmente se falar em doce de coco.
Mas existe o original doce de coco e que leva apenas coco, sem a necessidade de acrescentar grande quantidade de leite de vaca. Além do coco ralado, o doce é feito com grande quantidade de leite do próprio coco, sem mistura. Coloca-se a quantidade que quiser do fruto triturado, mas o leite tem de ser muito, vez que vai evaporando até chegar ao ponto.
Assim, o doce de coco original é feito apenas com o leite de coco e o fruto ralado, além logicamente do açúcar, da pitada de sal e do cravo para cortar o sabor enjoativo. Podem-se acrescentar cascas raladas de limão e outros poucos ingredientes. Mas também, acaso pretenda ter um doce com bolas macias, acrescentam-se ovos à receita. Ainda assim nada impede de ser visto como doce de coco com coco e ovos. Uma delicia.
Como diz o próprio nome, todo doce deve ser doce. Mas é na colocação da quantidade de açúcar que reside o maior mistério na feitura. Não só do açúcar com na pitada de sal, que muita gente confunde com meia xícara ou mais. Açúcar demais adoça tanto que torna o doce enjoativo, sem sabor definido. A boa cozinheira sabe que a medida certa de açúcar é também a medida do sabor do doce.
Além disso, é preciso saber o momento certo se quiser tampar a panela, o tipo de colher de pau que deve ser usado, o lado escolhido para mexer, bem como o momento adequado para fazer isso. Se for só doce de coco com coco não haverá maior problema, pois ele vai pegando consistência com a fervura e a mexida servirá exatamente para não formar bolas. Contudo, se for doce de coco com coco e ovos, aí deixará que vá cozinhando sozinho até as bolas se formarem soltas na panela.
Falei demais sobre doce de coco com leite ou com coco e já ia esquecendo daquilo que me impulsionou a escrever. E sentei no meu velho birô exatamente para tecer algumas considerações sobre pessoas maravilhosas, humanas demais, cativantes, mas que muitas vezes exageram no proceder sublime demais e acabam se tornando enjoativas, antipáticas, desagradáveis. Assim como um doce de coco com açúcar demais.
E lá venho novamente com o tal do doce de coco. Mas não poderia ser diferente, pois existem pessoas que realmente são assim. Conheço muitas que parecem flores na primavera, gentis, acolhedoras, simples e singelas, mas no afã de servir, de se aproximar, de tomar pé de tudo para ajudar, se tornam extremamente evitáveis. É difícil tal constatação, mas de repente fica impelido a fugir daquela doçura de pessoa. Mas pelo exagero na doçura.
Nem mesmo os enamorados suportam parceiros assim. Tanto o homem como a mulher gosta da doçura do beijo, da meiguice no olhar, da brandura espiritual, da ternura íntima, do ser agradável que o outro demonstra ser. Mas se os gestos são propositalmente exagerados, as atitudes tomam uma feição fictícia, o relacionamento se torna um jardim rodeado de abelhas, então logo a relação se tornará insuportável, fria e insegura.
Como afirmado acima, todo doce requer uma pitada de sal, e exatamente para não ficar enjoativo demais, com exagerada doçura. A planta não vive sem sol, a solidão necessita de uma janela aberta para entristecer ainda mais, a noite precisa de uma lua, a vida precisa da morte para que alguém tenha vivido, e todo relacionamento precisa de pitadas de discordância, de nãos e senões, de descontentamentos e até de desacertos. Sem tais aspectos não há que se falar em união, em relação, em amor. Ora, inevitável a doçura e o ardor, a perda para querer conquistar muito mais.
Por fim, só uma coisa mais e não diz respeito a doce de coco. É apenas um segredo, que não deixa de ser uma lição. Por maior vontade que tenha de experimentar o manjar dos deuses, por mais gula que tenha, vá sempre com cuidado. Experimente sempre aos poucos e verá que delícia é o doce de...


Poeta e cronista
rac3478@hotmail.com
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