Rangel Alves da Costa*
Quem não tem o que fazer procure urgentemente o que fazer, sob pena de passar a fazer parte de uma das classes mais perigosas de pessoas existentes em todo o mundo, que é a dos desocupados.
Até que poderia transformar o tempo que não faz nada, os instantes de pura desocupação, em ócio criativo, segundo a expressão do sociólogo italiano Domenico de Masi. Mas seria difícil, vez que este tipo de ócio exige esforço e produção intelectual para que a liberdade criativa seja possibilitada.
Como se vê, tal conceito não cabe perante aquele que realmente não tem o que fazer e nem procura se ocupar de qualquer coisa utilmente produtiva. Talvez fosse exigir demais de quem só pensa em produzir aquilo que é consumido pelo próprio ego perdulário, pelo próprio mau-caratismo, pelo prazer em ser a exemplificação maior da inutilidade.
Como todo mundo está cansado de saber, os desocupados sempre tendem a utilizar o seu tempo de ócio e de preguiça para praticar as mais negativas virtudes que existem. Daí uma inegável habilidade em ofícios tais como urdir mentiras, tramar falsidades, elaborar planos para denegrir a imagem dos outros.
Mas isso é só uma parte, pois quem não tem o que fazer quase sempre procura fazer aquilo que não deve. Primordialmente aquilo que não deveria fazer. Mexer no que está quieto e acabado, sem necessitar de reparos, é um vício terrível dos desocupados. E nisto inclui-se o querer transformar o mundo para pior, e logicamente quem nele habita.
O que o desocupado nunca se preocupa ou gosta de fazer é parar para pensar em si mesmo, em sua vida, refletir se continua com validade sua permissão de passagem terrena, o que não tem feito e precisaria fazer. Foge da reflexão porque sabe do nada construído, foge da meditação para não se envergonhar do verme asqueroso que vem sendo na vida.
Ao pensar em fazer alguma coisa, o que não tem o que fazer logo opta por aquilo que não traga nenhuma contribuição a si mesmo ou aos outros. E como não tem qualquer pensamento positivo, dana-se a criticar o mundo, a falar que ninguém presta por isso ou aquilo, a desonrar toda honra que se mostre indubitavelmente ao seu olhar.
Não todos, mas alguns que não têm o que fazer são fáceis de reconhecimento por alguns hábitos que se impõem. Não são idosos, mas gostam de jogar damas e dominós pelas praças e botecos, adoram falar sobre futebol e chegam a procurar brigas em defesa de seus times, sentem o maior prazer de não falar com quase ninguém da família, vendo nisso uma forma eficaz de inventar mentiras e aleivosias.
O desocupado é um perigo em qualquer situação, principalmente quando está totalmente desocupado. Não raro bate à porta de quem está ocupado e fica por ali tomando o seu tempo, conversando besteira, bisbilhotando, fazendo perguntas indesejáveis e falando mal de Deus e do mundo. Triste de quem é vizinho de quem não tem o que fazer e ainda por cima o muro de seu jardim é baixo.
É realmente difícil ser vizinho, amigo ou conhecido de gente assim porque ela insiste em se meter onde não deve, opinar sobre o que não lhe diz respeito e até fazer a voz do outro. A cor do carro é bonita, mas ficaria melhor assim; o jardim parece que não viu uma poda faz tempo; alguém disse que ouviu alguém dizendo que sicrano parece andar com um rei na barriga só porque subiu na empresa. Tudo a cara do desocupado.
É próprio dos desocupados se arvorarem do exercício da profissão de repórter sensacionalista e sair por aí procurando vestígios de pequenas coisas, vendo absurdos em tudo, investigando o que os outros andam fazendo. Com todo esse material em mãos, a primeira coisa que fazem é acrescentar o que não viu, depois multiplicar por muito e em seguida começar a espalhar. Conta logo a um fofoqueiro profissional e depois se recolhe contente, pois sabe que já fez muito bem a sua parte.
Por fim, parafraseando Marcelo Soriano resta dizer que “Os desocupados são gente de carne e ócio”.
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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