Rangel Alves da Costa*
É linda aquela alameda que serve como percurso para muita gente. Admiro os flamboyants e as pessoas que passam pelos seus sombreados e seus floridos. Há uma rua com cerejeiras que florescem no inverno, lindas, maravilhosas, que encantam os olhares que caminham entre suas fileiras.
Mas minha vontade mesmo é de passar todos os dias por estradas com ciprestes lado a lado. Os ciprestes deveriam fazer parte do caminho de todo mundo. Todo ser humano deveria ter assegurado o direito de caminhar por entre estas coníferas ao menos uma vez na vida. Que imponência, que grandiosidade daria à vida!
Vejo em fotografias os bosques, as alamedas, as imensas avenidas, as estradas e os caminhos repletos de ciprestes. As fileiras certinhas, árvore após árvore, se perdem ao longe. Árvores altas, imensas, com copa globosa, irregular, formando como uma chama verdejante de longa duração. Chamam também de piramidal essa copa que vai se estreitando para cima.
Nas fotografias, a simples presença de ciprestes já quer significa uma estrada que vai se distanciando por entre suas formações. À moda dos pinheiros dos trópicos, eram comuns nas estradas que cortavam jardins na época dos grandes reinados. Por serem altos, vistosos, verdejantes, se assemelham a imensos cercados que cortam e delimitam os grandes cemitérios.
Talvez as pessoas que possuem a oportunidade de peregrinar por entre caminhos de ciprestes não tenham, no momento do passo, a verdadeira consciência do que aquela simples atitude significa. Não percebem nada enquanto caminham, talvez nem olhem para os lados nem para o alto, mas estão seguindo em meio às árvores da vida, a plantações cuja simbologia religiosa indica a união entre o céu e a terra.
Árvores da vida pela sua altura, sua imponência, numa retidão vicejante que vai subindo cada vez mais até ir se afunilando novamente. A vida que nasce pequenina, em seguida vai se alongando imponente, para depois voltar ao primeiro estágio, já com o olhar e mãos tentando pegar nas nuvens, subir aos céus. Talvez por isso mesmo preferida pelo pintor Van Gogh como árvore constante nas suas telas.
Simbologia religiosa, significando a união entre a terra e o céu pela sua estatura, pela grandiosidade que expressa e principalmente pelo seu aspecto sempre cheio de vida. Realmente, quem caminhar por entre suas vagas e olhar para o alto verá uma espécie de mureta, de cercado arbóreo, que vai se comprimindo e lá no alto se abre para o infinito azul, enluarado ou ensolarado.
Conheço ciprestes por fotografias e outras imagens. Os cartões postais de antigamente estampavam suas belezas, os filmes românticos muitas vezes finalizavam mostrando estradas com ciprestes que vão se perdendo ao longe. Mas nunca vi um cipreste da minha janela, nunca tive uma só espécie na minha rua, jamais segui adiante através de bosques e estradas ladeadas por essas coníferas.
Meu caminho por ciprestes é apenas sentimental, imaginário, como num filme que sei que jamais irei fazer parte. Por ser assim tenho de me contentar em imaginar ciprestes nas cercas carcomidas, nos troncos tortos, nas catingueiras, baraúnas, plantas rasteiras, cactos, garranchos que esperavam o vento. Cipreste em tudo porque preciso caminhar por estradas diferentes das que sempre coloco os pés.
A minha cidade possui muitas árvores nos canteiros, muitas plantas enfeitando os centros das avenidas, nas leiras das ruas. O lugar onde moro é também verdejante, ajardinado. Mas plantas e árvores num só prumo, numa só direção, numa só fileira, ou simplesmente dispersas ou ao acaso. E eis a grande diferença de se ter ciprestes pelos caminhos.
Os ciprestes se colocam ao lado do caminhante, dão o destino e a direção. E nesse muro amadeirado, de árvores enfileiradas, existe inscrições que é preciso ter sentimentos para entendê-las. Nunca caminhei entre ciprestes, mas sei bem que poderia ler que o seguir adiante é um ato tão solene como a companhia e proteção da natureza que se quer ter.
Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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