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quarta-feira, 9 de maio de 2012

DESEJOS IRREALIZÁVEIS (Crônica)

                             
                                                           Rangel Alves da Costa*


Sempre o dinheiro, sempre o poder econômico, sempre o aspecto da riqueza interferindo em tudo, até mesmo nos desejos mais singelos. E por faltar recursos para concretizá-los, a cada dia que passa sinto que determinados desejos vão se tornando cada vez mais irrealizáveis.
Tem gente que tem dinheiro o bastante para comprar o que quiser, fazer viagens ao espaço, apenas dizer o que deseja e logo estará ao seu alcance. Já outros, como eu, logo têm de se deparar com a consciência das limitações e simplesmente continuar sonhando sem jamais realizar.
Verdade é que alguns com tantos e outros com quase nada. E na maioria das vezes que tem demais não sabe fazer uso de suas possibilidades, praticamente deixando de viver para acumular ainda mais. Nunca pensaram, por exemplo, em reverenciar o mistério profundo da Ilha de Páscoa nem seguir os caminhos das descobertas arqueológicas mais importantes.
Os desejos que dificilmente realizarei são tão necessários como a sede de conhecimento que cada um deve ter. Não penso em ter uma mansão luxuosa, carro importado, roupas caríssimas, ternos encomendados, um monte de quinquilharias reluzentes ao meu redor. Nada disso. O que desejo só é útil ao conhecimento, à curiosidade, ao vivenciamento de aspectos históricos mais antigos e que ainda podem ser avistados.
Desejo, por exemplo, viajar para conhecer castelos antigos, com suas torres, grandes salões, objetos, masmorras; para passear por mosteiros medievais, caminhar pelas suas bibliotecas e labirintos, sentir no ar o cheiro antigo e o eco dos monges em penitência; para conhecer as cidades construídas nas pedras e rochedos, experimentar o seu silêncio, sentir o seu misterioso calor.
Em mim é imensa a vontade de conhecer as ilhas polinésias e seus povos que vivem em comunidades primitivas, mantendo ainda os antigos costumes e tradições; visitar tribos nômades que ainda vagam pela aridez desértica do Saara; sentir e compreender a religiosidade que conduz a humilde vida dos monges tibetanos; entrar na pedra rochosa de um templo maia, inca ou asteca.
Como vivem as comunidades siberianas, os nativos australésicos, as tribos africanas, os ilhéus mais distantes e esquecidos, os esquimós groenlandeses? Como seria percorrer os caminhos do Vaticano, as adjacências da Basílica de São Pedro, as construções subterrâneas que guardam os mistérios da Igreja, os labirintos quase inacessíveis?
E quando falo em desejos irrealizáveis o faço por razões óbvias. Irrealizável porque impensável conhecer lugares distantes se até hoje não me foi possível nem conhecer parte dos cenários históricos pátrios. Não só históricos como também geográficos, sociológicos, arqueológicos. Mesmo sem alguma intencionalidade específica já me foi possível colocar os pés e os olhos em muitas paisagens que gostaria, e não muito distante.
Conheço apenas parte da história e da geografia desse imenso país, mas já me sentiria contente se pudesse pisar no chão, olhar e sentir os cenários vivos de extraordinários acontecimentos. Conhecer os ribeirinhos do amazonas deve ser um deslumbrante navegar; sentir a presença dos primórdios do homem na região de São Raimundo Nonato; avistar tribos indígenas xinguanas que ainda não foram despersonalizadas pela civilização branca.
Mesmo dentro dos nossos limites territoriais muito se torna inacessível. Daí logo concluir pela impossibilidade de percorrer caminhos distantes, em países e territórios longínquos, em lugares difíceis de serem alcançados até mesmo por pesquisadores e turistas endinheirados. Mas jamais me contentarei em conhecer esse mundo maravilhoso através dos livros e revistas, canais televisivos e por ouvir dizer.
Por isso que desligo a televisão e começo, ao menos em pensamento, a fazer uma longa viagem pelo Vale do Loire, na região histórica francesa, e lá percorrer castelos, conversar com reis e rainhas, beber do melhor vinho em taça nobre e reluzente. E valsar nos seus imensos salões. Uma valsa tão magnífica, cativante e encantadora, que nem penso em acordar do sonho.



Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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