SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

AMOR, MEU GRANDE AMOR (Crônica)

AMOR, MEU GRANDE AMOR

                                       Rangel Alves da Costa*


Amor, meu grande amor, te canto na música de Cazuza, por isso “... Não chegue na hora marcada/ Assim como as canções/ Como as paixões e as palavras.../ Me veja nos seus olhos/ Na minha cara lavada/ Me venha sem saber/ Se sou fogo ou se sou água.../ Amor, meu grande amor/ Me chegue assim bem de repente/ Sem nome ou sobrenome/ Sem sentir o que não sente.../ Pois tudo o que ofereço é meu calor, meu endereço/ A vida do teu filho desde o fim até o começo.../ Amor, meu grande amor/ Só dure o tempo que mereça/ E quando me quiser que seja de qualquer maneira.../ Enquanto me tiver/ Que eu seja o último e o primeiro/ E quando eu te encontrar/ Meu grande amor me reconheça.../ Pois tudo que ofereço é meu calor, meu endereço/ A vida do teu filho desde o fim até o começo...”.
Amor, meu grande amor, te canto na música do vento, por isso me chegue assim tão desgrenhada, leve, solta, esvoaçante como uma folha que dança no ar. De sopro em sopro, antes brisa quando andava distante, de repente surge o entardecer mais bonito, de horizonte promissor, e descendo as montanhas, no passo cortante dos que apressadamente vão chegando. E vejo os sinais do teu corpo bailando ao se aproximar, e vem, furiosamente contente, passar em frente à minha janela em todo lugar e me faz acompanhar na esperança de rodopiar sem destino até onde me queira levar.
Amor, meu grande amor, te canto na noite, por isso me venha assim como lua, como estrela, como negrume ou como vagalume bailando faiscante diante da minha saudade. E eu que tenho medo da escuridão, tenho medo do lobo, tenho medo da solidão, ainda assim caminho em cima do ponteiro do relógio e me ponho lá fora, no mundo lá dentro, a te procurar em qualquer lugar. O céu tem estrelas, uma lua se esconde e reaparece, e ouço um passo apressado parecendo com o seu, voando, veloz, em busca de um, unindo-se em nós, mas some num instante, num mundo adiante, no mundo distante da estrela que passou ardente e virou cadente.
Amor, meu grande amor, te canto nas horas, te canto no tempo, canto toda saudade que o tempo tem. Meu calendário é marcado, todas as páginas tantas vezes reviradas, com uma agenda ao lado que não tem mais uma só linha para dizer que vai voltar, um dia irá voltar, hoje, mais tarde, ou amanhã talvez. E passa semana e passa mês e tudo fica mais velho em mim, as lembranças começam a falar sozinhas, a saudade cai todas as vezes que quer voar, e a cadeira de balanço diante da minha janela olha para o lado de fora esperando a chuva chegar. É tempo de chuva, tempo de tristeza, tempo de chorar...
Amor, meu grande amor, te canto esperança, crença, fé, divina certeza que naquelas linhas tortas onde a vida está escrita estaremos juntinhos no ponto final. Não que a vida fosse um romance para que depois de tanto dor enfim chegar o amor; não que a vida fosse fábula para repassar mais tarde uma lição de que vale a pena sofrer pela alegria do amor que virá; não que a vida fosse exemplo de que é na batalha e no sofrimento que se conquista o desejado. Não, principalmente porque não precisamos sonhar nem viajar para realizar, mas simplesmente querer o que o destino nos faça merecer. Se for amor, que feche essa porta e vá pra estrada, que já estou pulando a janela e vou caminhar. Haverá um encontro, e haveremos de nos encontrar.
Amor, meu grande amor te canto essa tarde de outono, esse amarelo-avermelhado nas folhas, esse ocre-acinzentado que levemente balança, e também essa paz, essa brisa que sopra, esse sopro que vem e esvoaça o jardim. Canto esse cantar porque nem tudo é solidão nessa paisagem marrom, nem tudo é chama de saudade nesse tapete de folhas caídas que vai até as portas da próxima estação. Não, pois há um silêncio sentado em cima de um banco querendo falar, querendo dizer que está se reservando para o nosso encontro de qualquer hora. E se vier agora me espere que chego já, vou me soltar da árvore na próxima ventania e vou correndo te encontrar.
Amor, meu grande amor, se todo canto meu foi cantar inaudível ou silencioso, que perdoe o cantor que acha muito pouco abrir a boca e dizer apenas que te ama.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com


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