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quinta-feira, 15 de setembro de 2011

EU, HERDEIRO DE DEUS (Crônica)

EU, HERDEIRO DE DEUS

                                          Rangel Alves da Costa*


É apenas uma lógica da hereditariedade da vida: se sou filho, sou herdeiro, então por que vou destruir aquilo que me foi deixado como herança?
É também uma lógica da hereditariedade cristã: se sou filho de Deus, sou herdeiro do Pai, ainda que Ele seja eterno. Mas também urge indagar: por que vou destruir aquilo que me foi confiado, enquanto filho amado, pelas vastidões dessa terra?
Essa herança não é imaginária, não é fruto de qualquer devotamento cristão nem uma filiação forjada na piedade, mas confirmada pela própria palavra divina contida nas Escrituras. Como testemunho e testamento está escrito:
“A terra será dividida entre estes, segundo o número de suas pessoas, para que eles a possuam como herança” (Números 26,53).
“Naquele tempo, dei-vos esta ordem: o Senhor, vosso Deus, deu-vos esta terra em herança” (Deuteronômio 3,18).
“Desse modo não se derramará sangue inocente na terra que o Senhor, teu Deus, te dá por herança, e não haverá sangue sobre ti” (Deuteronômio 19,10).
“Então o Senhor lembrou-se dos seus e fez justiça à sua herança” (Ester 10,12).
 “Pede-me; dar-te-ei por herança todas as nações; tu possuirás os confins do mundo” (Salmos 2,8).
“Feliz a nação que tem o Senhor por seu Deus, e o povo que ele escolheu para sua herança” (Salmos 32,12).
“Foi Deus quem salvou todo o seu povo, e quem deu a todos a herança, o reino, o sacerdócio e a santificação” (II Macabeus 2,17).
 “Que lugar, dissera eu, vou conceder-te entre meus filhos, que terra de delícias vou dar-te como herança, a mais bela jóia das nações!” (Jeremias 3,19).
“certos de que recebereis, como recompensa, a herança das mãos do Senhor. Servi a Cristo, Senhor” (Colossenses 3,24).
Assim, não há como duvidar que sou filho de Deus e recebi como herança, desde o momento da confiança na minha geração no ventre materno até os dias que meus pés se assentem sobre a terra, tudo aquilo que me cabe pelo simples fato de ser humano.
Daí novamente indagar: se Deus na sua infinita bondade confiou-me tanto e tudo, e dize-me ainda que terei muito mais perante meus atos e ações, então por que, por conta própria, me faria um desertor da graça divina e indignamente renegaria toda a herança que me cabe?
Não, meu Deus, meu Pai, meu Senhor, pois ainda que fosse um grão o que me coube nessa imensa partilha, ainda que fosse uma folha ao vento com o que devo me contentar, ainda que fosse apenas o nome e sobrenome que eu deva honrar, ainda assim seria, como tenho sido, o mais grato dos filhos.
Tenho tudo em quase nada que tenho, mas o meu contentamento é tamanho naquilo que me foi confiado, que jamais me negarei a dividir o que possuo com qualquer irmão que necessite. Se quiser uma palavra darei; se quiser um conforto darei; se quiser minha sincera amizade darei.
Contudo, Senhor, eu e minha formiga que trabalhamos no silêncio dos dias, procurando construir a cada manhã e a cada noite, durante todos os dias, e assim fazer prosperar essa herança, infelizmente sentimos que os outros herdeiros do mesmo quinhão, e não se contentando destruir o que lhes coube, jogam sua ira sobre tudo que foi herdado.
Enquanto eu e minha formiga nesse instante carregamos uma folha, mais adiante e por todos os lados estão destruindo a vida, devastando a natureza, eliminando o próprio homem, plantando a semente da discórdia, espalhando pelo ar um espectro triste de desalento e devastação. E talvez não saibam, Senhor, que foi somente essa a herança confiada, pois tudo foi confiado. E todo aquele indigno de ter jamais será lembrado quando tudo lhe faltar.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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