*Rangel Alves da Costa
Certamente que os anos passam, mudanças vão
ocorrendo e os modismos acabam revirando tudo dos pés à cabeça. Contudo, o
novo, a mudança e a transformação, não significam necessariamente em
deterioração dos bons e antigos costumes. Imagina-se que o novo não surja
sempre com o poder de aniquilar o que de melhor se enraizou. Apenas se imagina,
vez que o modismo procura destruir o passado de tal modo que não há se imaginar
senão o fim da humanidade pelo próprio homem.
No carnaval é assim também. O bom carnaval
ainda é brincado com as velhas marchinhas, com as músicas de salão e suas
letras desafetadas e até românticas. E assim acontece pela letra, pela melodia,
pelo prazer de ouvir, cantar e brincar. Mas hoje, e infelizmente, verdadeiros
absurdos são entoados como se músicas fossem. Isso mesmo, suas letras são tão
pornográficas que até deveriam ser proibidas em sons altos e vias públicas. Para
quem ouviu e ainda ouve “Quanto riso, ah quanta alegria, mais de mil palhaços
no salão, arlequim está chorando pelo amor da colombina no meio da
multidão...”, para atualmente ouvir que namora uma prostituta, que ela é linda,
ela é puta, soa como desmedida abusividade.
Abaixo citarei dois exemplos, sendo o
primeiro de verdadeira música carnavalesca, e a segunda dessa porcaria que de
repente surge e, ao menos por alguns dias, passam a ter o dom de ferir os
ouvidos e a mente, e simplesmente pela imprestabilidade pornográfica de sua
letra. Na primeira, eternizada pelo seu valor musical, sua melodia e letra,
apenas uma singela brincadeira que contagiava salões. Na segunda, um verdadeiro
vômito auditivo, nada mais que uma tentativa (e conseguida) de ridicularizar de
vez a sociedade, vez que na sua letra o puro achincalhe.
A marchinha carnavalesca Alalaô, de autoria
de Haroldo Lobo e Nássara, sucesso nas ruas e salões desde os anos 40 nas vozes
de Carlos Galhardo e Emilinha Borba, dentre outros, a ligeira canção momesca
diz: “Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô, mas que calor, ô ô ô ô ô ô. Atravessamos o
deserto do Saara, o sol estava quente e queimou a nossa cara, Allah-la-ô, ô ô ô
ô ô ô, mas que calor, ô ô ô ô ô ô. Viemos do Egito e muitas vezes nós tivemos
que rezar: Allah, Allah, Allah, meu bom Allah, mande água pra Ioiô, mande água pra
Iaiá. Allah, meu bom Allah”.
Já o segundo exemplo, surgido não sei de
onde, mas que está fazendo muito mais sucesso entre os jovens pervertidos que a
tal da Jennifer (outra porcaria criada pela mídia igualmente pervertida), diz
assim: “Estou gostando de uma prostituta, ela é linda, ela é puta. Tô de rolê
com uma prostituta, ela é linda, ela é puta. Estou gostando de uma prostituta,
ela é linda, ela é puta. Tom de rolê com a prostituta, que gata, ai que puta.
Eu viajo nela, eu tiro onda com ela. Não tem jeito, aonde eu chego a massa paga
um pau. Eu viajo nela, eu tiro onda com ela. Eu banco mesmo a figura no jeito,
dinheiro é pra se gastar. Eu gosto é de luxar, eu gosto de tirar onda... Estou
gostando de uma prostituta, ela é linda, ela é puta. Tô de rolê com uma prostituta,
ela é linda, ela é puta...”. A composição dessa “obra-prima” é de um tal de
Pepe Moreno.
Absurdos como este vão surgindo a cada dia. E
a juventude chega a delirar ouvindo tal imundície. Sim, baboseira, lixo, putrefata
nojeira. Realmente difícil imaginar até que ponto a humanidade pode se ajoelhar
ao imprestável. Não há psicologia que entenda e explique a personalidade humana
sendo rebaixada a nível tão vergonhoso.
E dizem que o mundo ainda tem jeito. Mas tem
não. Duvido que a humanidade progrida em alguma coisa quando o seu futuro - que
está também na juventude de hoje – desce até o chão para dançar pornografia.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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