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segunda-feira, 18 de março de 2019

“UM POUCO DE ÁGUA PARA MATAR A SEDE DO RIO”



*Rangel Alves da Costa


Agora mesmo avistei umas fotografias postadas por minha amiga Quitéria Gomes e nas imagens tudo aquilo que eu já imaginava, mas que somente agora a comprovação visual: o comprometimento, desde a infância, da comunidade ribeirinha de Bonsucesso com o seu o rio, o São Francisco, o seu Velho Chico.
Opará! Opará! Não, não é por todo lugar que a criançada sai levando sacolas de plástico para recolher as sujeiras deixadas e acumuladas nos beirais molhados. Não, não é por todo lugar que a criançada abraça o seu rio e, do encantamento, a singela oração de mãos dadas por dias melhores para o sagrado espelho. Não, não é por todo lugar que a criançada avista o seu rio e se promete e compromete a ser seu eterno amigo e protetor.
Mas em Bonsucesso é assim. A infância e a juventude de Bonsucesso são uma infância e uma juventude do rio, do seu São Francisco, do seu Velho Chico. Desde os primeiros anos que aprendem a amar o seu rio, desde os primeiros passos que caminham em direção ao seu rio, e pela vida inteira vão se encantando, amando e até sofrendo com o seu rio.
Mesmo que os adultos não ensinem ou incentivem a amar o seu rio, mesmo que as escolas não eduquem para a natureza e a questão ambiental, é o amor demonstrado pelos adultos que faz com que as crianças também criem esse comprometimento. E de repente cada um e todo mundo já está tendo o rio dentro de suas próprias entranhas. Significa dizer que o Velho Chico passa a ser como a própria seiva da vida.
A população de Bonsucesso sempre possui um olhar diferenciado para o seu rio, para o seu lugar, para tudo que a rodeia. Não conheço comunidade mais presente na vida do seu lugar que a ribeirinha de Bonsucesso. Todos os habitantes possuem uma sensação de pertencimento tal que chega a ser um bairrismo positivo e altamente promissor.
Aqueles ribeirinhos chamam para si as responsabilidades não só pela proteção do rio como pela cultura, pela história, pelas tradições. Possuem manifestações enraizadas e procuram manter tais raízes sempre presentes e passando de geração a geração. Pertencente ao município de Poço Redondo, no sertão sergipano, mas somente lá a preservação da cultura continua resplandecente.
A população ribeirinha mantém a tradição da cavalhada adulta e mirim, do reisado e do pastoril, do teatro de palco e de rua, da mais profunda religiosidade. Cuida de seus cemitérios, faz reparos em antigas construções e nos templos religiosos, reabre estradas tomadas pelo mato, limpa as beiradas do rio, promove as mais belas procissões e cultos sagrados.
Contudo o que mais verdadeiramente me comoveu com as imagens foi o simbolismo das crianças despejando água no rio, derramando nas águas um pouco d’água. O que isso significa? Simplesmente a mais bela lição: “O rio não morrerá. Não deixaremos o rio morrer de sede!”.
“O rio não morrerá. Não deixaremos o rio morrer de sede!”. A criança de agora e a criança de amanhã. Uma simbologia que a muitos seria apenas de ineficaz poesia, mas revelando o compromisso de cada, desde a infância: o rio é vida e não pode morrer de sede!


Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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