*Rangel Alves da Costa
Agora
mesmo avistei umas fotografias postadas por minha amiga Quitéria Gomes e nas
imagens tudo aquilo que eu já imaginava, mas que somente agora a comprovação
visual: o comprometimento, desde a infância, da comunidade ribeirinha de
Bonsucesso com o seu o rio, o São Francisco, o seu Velho Chico.
Opará!
Opará! Não, não é por todo lugar que a criançada sai levando sacolas de
plástico para recolher as sujeiras deixadas e acumuladas nos beirais molhados.
Não, não é por todo lugar que a criançada abraça o seu rio e, do encantamento,
a singela oração de mãos dadas por dias melhores para o sagrado espelho. Não,
não é por todo lugar que a criançada avista o seu rio e se promete e compromete
a ser seu eterno amigo e protetor.
Mas em
Bonsucesso é assim. A infância e a juventude de Bonsucesso são uma infância e
uma juventude do rio, do seu São Francisco, do seu Velho Chico. Desde os
primeiros anos que aprendem a amar o seu rio, desde os primeiros passos que
caminham em direção ao seu rio, e pela vida inteira vão se encantando, amando e
até sofrendo com o seu rio.
Mesmo que
os adultos não ensinem ou incentivem a amar o seu rio, mesmo que as escolas não
eduquem para a natureza e a questão ambiental, é o amor demonstrado pelos
adultos que faz com que as crianças também criem esse comprometimento. E de
repente cada um e todo mundo já está tendo o rio dentro de suas próprias
entranhas. Significa dizer que o Velho Chico passa a ser como a própria seiva
da vida.
A
população de Bonsucesso sempre possui um olhar diferenciado para o seu rio,
para o seu lugar, para tudo que a rodeia. Não conheço comunidade mais presente
na vida do seu lugar que a ribeirinha de Bonsucesso. Todos os habitantes
possuem uma sensação de pertencimento tal que chega a ser um bairrismo positivo
e altamente promissor.
Aqueles
ribeirinhos chamam para si as responsabilidades não só pela proteção do rio
como pela cultura, pela história, pelas tradições. Possuem manifestações
enraizadas e procuram manter tais raízes sempre presentes e passando de geração
a geração. Pertencente ao município de Poço Redondo, no sertão sergipano, mas
somente lá a preservação da cultura continua resplandecente.
A
população ribeirinha mantém a tradição da cavalhada adulta e mirim, do reisado
e do pastoril, do teatro de palco e de rua, da mais profunda religiosidade.
Cuida de seus cemitérios, faz reparos em antigas construções e nos templos religiosos,
reabre estradas tomadas pelo mato, limpa as beiradas do rio, promove as mais
belas procissões e cultos sagrados.
Contudo o
que mais verdadeiramente me comoveu com as imagens foi o simbolismo das
crianças despejando água no rio, derramando nas águas um pouco d’água. O que
isso significa? Simplesmente a mais bela lição: “O rio não morrerá. Não
deixaremos o rio morrer de sede!”.
“O rio não
morrerá. Não deixaremos o rio morrer de sede!”. A criança de agora e a criança
de amanhã. Uma simbologia que a muitos seria apenas de ineficaz poesia, mas
revelando o compromisso de cada, desde a infância: o rio é vida e não pode
morrer de sede!
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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