*Rangel Alves da Costa
Belíssima a assertiva de Artur Schopenhauer: Da
árvore do silêncio pende seu fruto, a paz. Fruto doce, apetitoso, e sem
qualquer ruído.
E a árvore do silêncio, tão bela e frondosa,
pode ser avistada, tocada, sentida, em todo lugar. Desde o asfalto ao chão
fecundo lá estará.
E também estará onde ninguém avista, onde
somente o semeador conhece o seu lugar e a sua imponência. Tão imensa e
visível, tão presente e invisível é a árvore do silêncio.
Não precisa de arvoredo ou pomar, floresta ou
mata fechada. Não requer distância do homem para estar protegida. E não morre
com o tempo, pois eterna é a árvore do silêncio.
Aliás, a árvore do silêncio não nasce senão
da raiz do desejo de cada indivíduo, não cresce senão na mente e não frutifica
senão em galhos invisíveis. Mas pressupõe sempre o silêncio para florescer,
para dar seus frutos.
E dessa árvore, presença silenciosa ao redor
do indivíduo, a paz vai brotando como fruto mais desejado. Fruto doce é o da
paz, e talvez o único que possa saciar a fome do mundo.
O mundo, o homem, a vida, as relações, os
seres, a existência, as convivências, os amores e os ódios, as intrigas e os
entendimentos, tudo necessita de paz. E o fruto da paz não será colhido
enquanto não surgir o silêncio que possibilite a reflexão.
Quando o filósofo afirma que da árvore do
silêncio pende o fruto da paz, outra coisa não faz senão afirmar que somente o
silêncio possibilita ao homem colher a calma e tranquilidade necessárias para
refletir acerca dos caminhos que levem à paz.
Ora, a paz citada não é apenas aquela
envolvendo quietude, tranquilidade, placidez, sossego, serenidade. Envolve
muito mais, eis que a paz referida por Schopenhauer é também aquela fruto de um
estado mental e espiritual que leva ao homem o poder da reflexão, da meditação.
A reflexão e a meditação seriam as sementes
que germinariam a paz. Ora, a paz não é pensada em meio à guerra, à balbúrdia,
às gritarias e desassossegos. O encontro com a paz exige silêncio,
concentração, imaginação.
Fácil compreender o porquê de o silêncio
frutificar. É no silêncio que o pensamento se aperfeiçoa, que a mente se torna
produtiva, surgem as ideias, as boas noções, os caminhos e as possibilidades se
tornam mais nítidas.
É no silêncio que o homem encontra consigo
mesmo, que alarga sua visão acerca da realidade, que adentra profundamente
naquilo que em outra situação seria apenas aparente. Basta que o silêncio
paire, que calem as vozes da incompreensão, e o homem estará apto a ser uma voz
espiritual diante do mundo.
Que se tomem como exemplos as grandes
criações ou invenções humanas, ou mesmo os estudos que produziram descobertas
consideráveis. Em tais situações apenas o diálogo do homem com o seu objeto, de
forma silenciosa e produtiva, de modo que apenas a aparência da
intencionalidade tivesse voz.
Impossível imaginar Mozart ou Bach criando
sua música em meio a algazarras. Difícil conceber Einstein debruçado sobre sua
teoria em meio a vozes e gritarias. A poesia, a escrita, a pintura, a arte em
si, exige um mínimo de silêncio para encontrar sua própria voz.
Que se imagine Schopenhauer subindo à
montanha para encontrar o silêncio tão necessário à meditação filosófica. Mesmo
tecendo acerca de pessimismos e dores do mundo, não deixa de reconhecer que
somente o silêncio possibilita o aprofundamento em tais questões.
Veja-se, por exemplo, o sino da igreja. Ouvir
o seu badalar em silêncio provoca um diálogo espiritual de indescritível
intensidade. E até dá para ouvir a canção da brisa do entardecer quando o
silêncio envolve tudo ao redor.
Sim, na árvore do silêncio a paz. E um canto
de pássaro que jamais será ouvido por aqueles que não são nem de silêncio nem
de paz.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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