*Rangel Alves da Costa
Agora noite, agora chove... Não ouço o
cricrilar insuportável dos grilos. Não ouço o gato gemendo no telhado. Não vejo
vaga-lumes cortando o breu em instantâneos de vida. Não ouço passos nem
assovios, vozes ou sussurros, mas ouço o barulho da chuva. A janela está aberta
e a porta da frente também. Do telhado os pingos caem como se as frestas
estivessem por todo lugar. Meu caderno de escrita molhou e já não tenho poesia
para esta noite. Experimentei mais uma xícara de café e desisti de me manter
aceso à custa de mais um gole. Quero dormir e não posso. Preciso dormir e não
posso. Minha rede já está armada e me esperando, mas sei que não conseguirei
dormir. Sem lua e sem estrelas, sem folhagens chegando pelos espaços, sem os
grilos cantando a solidão, eu nada sou. Sinto-me também molhado, encharcado por
dentro. E só resta uma coisa a fazer, sair porta afora e deixar que a chuva me
molhe ainda mais, encharque de vez e depois me escorra pelo chão em rio. Ou
assim farei ou, do mesmo jeito, ficarei: encharcado por dentro e por fora e
escorrendo em mares de angústia, de tristeza e de solidão.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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