*Rangel Alves da Costa
Outro dia, uma mãe, nossa querida Yngrid
Alexandrina, postou fotos de seu filho brincando com lagartinhas de terra. E
logo me enchi de recordações assim que vi as imagens. E que belas cenas as
desse menininho e seus amiguinhos: todos na areia, espalhados na terra mesmo, e
simplesmente brincando com as lagartas miúdas, inofensivas e que tantas
presenças possuíram - e ainda não possuem - na infância de qualquer um
sertanejo. Ao que o adulto talvez se afastasse, o menininho apenas brinca,
segura, coloca na terra e depois novamente na mão, fazendo dessa estranheza um
inusitado brinquedo. E quem, se verdadeiramente do sertão e morador de casa de
barro, um dia não colocou um punhado da parede na boca? Em época de chuva,
chegava a se fartar da lama surgida na própria moradia. Meninos sertanejos que
muito brincaram com cavalo de pau em noites de lua cheia, com bola de gude
lançada de buraco a outro, com jogador de botão pelas calçadas, com peteca
baleadeira pelos quintais e mais afastados. Meninas sertanejas e suas rodas
cirandeiras, suas cantigas de “se essa rua fosse minha...”, de “como pode um
peixe vivo viver fora de água fria...”. Meninos sertanejos correndo nus debaixo
das chuvaradas, com a bunda avermelhada pelas chineladas da mãe, de castigo por
ter amarrado lata de óleo em rabo de gato. Uma meninice sertaneja brincando de
boneca, brincando de fazer comida com folha de mato em fogão de lenha, querendo
ser vaqueiro de ponta de vaca e fazendeiro de curral pelos cantos dos quintais.
Hoje, até mesmo crianças na idade do filho de Yngrid já são acostumadas aos
brinquedos elétricos, tecnológicos, virtuais. Não há mais boi de barro nem
carro-tanque de lata de óleo, não há mais carrinho de madeira nem pião
lançador. Que pena que seja assim. E que bom essa visão desse garotinho
brincando por cima da terra e fazendo de suas lagartinhas o brinquedo mais
bonito do mundo.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário