*Rangel Alves da Costa
Já faz algum tempo que escrevi um conto que
intitulei de “O menino que nasceu verde”. Neste, uma criança nasce num sertão
tão conhecido por nós e tem que suportar, desde o primeiro instante que aflorou
do útero da mãe, as mesmas agruras de seu berço de nascimento. E simplesmente
por que o seu organismo, diferentemente do que ocorre com as demais crianças, é
igual ao próprio sertão: se o tempo está seco demais, a criancinha parece
murchar, e vai definhando mesmo, mas se chove e tudo verdeja, então o menininho
logo vai retomando suas forças até se encher de saúde e vida. Síntese da
história: o menino é a representação do próprio sertão em suas angústias e
alegrias. Acaso a mesma história fosse contada em relação a mim enquanto
pessoa, certamente que a analogia seria feita com relação às águas de um rio, e
não outro rio senão o São Francisco. Isso mesmo, pois sou como as águas deste
Velho Chico que ora estão caudalosas e noutro momento já está numa magreza de
dar dó. Igualmente ao rio, às vezes estou cheio, transbordante, imenso,
caudaloso, bonito, espelhado e espelhando alegria e felicidade. Noutras vezes,
apenas um resto de rio que vai despontando todo entristecido e feio, todo
estreito e raso. Às vezes, encharcado vivo dessa felicidade. Noutras vezes,
nada além de um beiral de vida que clama por dias melhores. Mas creio que todas
as pessoas são também iguais a este rio. Um dia a fartura, a imensidão, e de
repente já o leito em secura. Um rio somos. Aqui, ali, além.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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