*Rangel Alves da Costa
Guméria enviou ainda nova e pareceu de luto
fechado e para a vida inteira. E continua assim. Vive toda de preto, com lenço
também preto na cabeça, olhar sempre chorosa e feição entristecida de causar
compaixão. Contudo, dizem as más línguas que tudo isso não passa de fingimento.
E até provam a sibiteza da viúva. Dizem que ela da porta da frente pra fora é
uma coisa, mas outra totalmente diferente da porta da cozinha adiante. E assim
por que é pela porta dos fundos que ela sai - totalmente transformada e
irreconhecível - para os forrós e as festanças. Toda cheia de batom e no rouge
carmim, toda saltitante e de roupa florida, toda perfumada e cheia de
bijuterias, toda cheia de más intenções. Chega nos forrós e não tem mais mulher
nenhuma. Dança a noite inteira, rebola sem parar, bebe mais que um gamba. E se
faz de novinha pra namorar. E não quer velho não, só menino novo e cheio de
safadeza. Depois disso, e de fazer coisas inapropriadas à descrição, ela
retorna toda cambaleante, alcoolizada, com o batom espalhado pelo rosto inteiro.
Na manhã seguinte, após sair pela porta da frente, aquele mesmo luto e aquela tristeza
sem fim. É por isso mesmo que de vez em quando um gaiato diz: “Lá vai a quenga
veia se fingindo de viuvez!”.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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