*Rangel Alves da Costa
Eu sempre gostei de flores. Suas cores,
formas e aromas, sempre deram alegria, beleza e felicidade aos ambientes.
As flores simbolizam o amor, a paz, a união. E
principalmente a beleza sublime e singela vinda da natureza e lançada ao olhar
como perfeição.
Mesmo sem atentar para a simbologia das
flores, a maioria das pessoas gosta de ter um jarro ornado sobre a mesa ou
outros móveis.
Flores vivas, flores novas, colhidas ao
amanhecer no jardim. Nos jarros, ainda orvalhadas do anoitecer, as flores
parecem enfeites de beleza e paz.
Contudo, nem todo mundo tem um jardim adiante
nem consegue adquirir flores novas. Tantas vezes, as flores murchas continuam
nos jarros como recordações.
Sobre a cama, o buquê esquecido de rosas
vermelhas. Certamente que não irão ao jarro, pois os enamorados nunca dão o
devido valor às flores recebidas.
Sobre os sofás e pelos cantos da casa, os
buquês já murchos e esquecidos. Flores que apenas morrem sem proporcionar o
prazer que deveriam.
Mas há gente também sem flores. Sem flores, sem
jardins, sem floriculturas ou vendedores ao redor. E como essas pessoas fazem
para ter a beleza das cores nos seus jarros?
Simplesmente inventam e reinventam suas
felicidades. Flores de plástico, de todas as cores e formas, vão sendo
adquiridas e devidamente colocadas em jarros.
Rosas, jasmins, violetas, lírios, antúrios,
begônias, gardênias, girassóis, calêndulas, camélias, crisântemos, cravos,
gérberas, gerânios, hortênsias, hibiscos, flores e mais flores.
Flores e mais flores, mas todas flores de
plásticos. Quando novas, são em tamanha perfeição quem ninguém dirá se tratar
de uma reles imitação de coisa tão bela.
Assim as flores de plásticos passam a dar
vida aos ambientes domésticos, às salas e demais dependências. Às vezes vão
sendo limpas para que a poeira e o pó não as enfeiem.
Mas o tempo das flores de plásticos, ainda
que de mais longevidade que as flores vivas, também têm o seu fim determinado. Vão
perdendo a cores, os viços, os brilhos.
E de repente as flores de plásticos já estão
totalmente esbranquiçadas. Com a fragilidade do plástico, as pétalas vão
desprendendo e caindo. Somente os arames ficam.
As hastes de arame das flores de plástico
mortas sempre parecem os gravetos dos jardins sem flores. Uma nudez
esquelética, feia, entristecida, tendendo a logo sumir.
Agora imaginem um amante das flores, da
poesia das flores, do aroma e da beleza das flores, sem as flores vivas nem as
flores de plástico? Apenas com o jarro sobre a mesa.
Nada mais triste e doloroso que um jarro sem
flores. Mas eu tenho um jarro sobre a mesa que é assim: triste e doloroso. Mas
ali permanece para aumentar minha dor.
Não posso regar, não posso tocar, não posso
limpar, não posso adubar, não posso fazer nada, eis que ali somente um jarro. E
jarro este que jamais teve sequer uma flor no seu interior.
O que faço, então, para não entristecer e
sofrer mais ainda perante as flores inexistentes? Simplesmente passo a avistar
flores onde eles não existem. E muitas flores.
Ao me aproximar da mesa, ao invés de me
deparar com a certeza da inexistência de cores, aromas e belezas, eu quase crio
um verdadeiro jardim florido no olhar.
Mesmo sem uma flor sequer, para mim elas
estão ali. Então, nesse devaneio que nada mais é que forjamento de uma
realidade, eu me sinto poeta, sinto-me feliz e feliz.
E assim, passo a ter diante de mim rosas,
jasmins, violetas, lírios, antúrios, begônias, gardênias, girassóis,
calêndulas, camélias, crisântemos, cravos, gérberas, gerânios, hortênsias,
hibiscos, flores e mais flores.
Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com
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