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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

PRECISO ENTENDER (Crônica)

PRECISO ENTENDER

Rangel Alves da Costa*


Existem coisas, certos fatos e acontecimentos na vida, que por mais que eu tente não consigo entender. Não sei se é porque ainda não cheguei à idade da sabedoria, do pleno conhecimento, da experiência comprovada em tudo, mas certas coisas juro que não consigo entender.
Fico me perguntando se vale a pena se falar tanto na falta de amor, de compreensão, de compartilhamentos entre as pessoas, se o que impera na vida e fere e afronta os nossos olhos e sentimentos são o individualismo, o egoísmo e a prepotência em tudo. Querem colher onde cultivam ervas daninhas.
Não consigo compreender porque as pessoas expressam tanta dor quando perdem alguém, choram oceanos quando seus amores estão distantes ou ausentes, só faltam subir na montanha pra gritar mil perdões, se no instante da presença, quando estiveram ou estão ao lado, não foram amados como deveriam, não foram vivenciados e sentidos como deveriam ter sido, não ocorreu nada daquilo que se espera de quem tanto diz amar.
Por mais que eu ouça não consigo escutar qualquer verdade naqueles que afirmam que o governo é o melhor, a saúde é a melhor, o mercado de trabalho nunca empregou tanto, o desemprego não existe mais, a pobreza será erradicada, ninguém passa mais fome no Brasil, a educação é de qualidade e o ensino é de primeiro mundo, não há mais filas nas repartições nem nos hospitais, a violência diminuiu, a pedofilia está sendo combatida, a igreja não tem culpa de nada, não existem mais crianças vagueando abandonadas pelas ruas nem dormindo embaixo de marquises.
Não consigo entender como os governantes fazem os cálculos da miséria e da riqueza, somam e dividem, elevam ao quadrado, subtraem a razão, chegam na proporção, e depois afirmam que chegaram ao resultado positivo: a desigualdade social não existe, não há mais diferenças entre ricos e pobres, todos estão num mesmo patamar de condições de sobrevivência. Só que uns nos barracos e outros nas Bahamas.
Creio que com os outros é diferente, mas não consigo imaginar, e muito menos entender, tantos pais fechando os olhos para as realidades que circundam os seus filhos, que passam a viver abertamente no mundo das fantasias mortais, nos jogos de tome e leve o corpo e tudo, nas encruzilhadas e esquinas das drogas, pelos caminhos sem fronteiras e sem volta dos tantos vícios e perdições.
Meu conservadorismo e minha antipatia não me deixam entender, e muito menos aceitar, que o princípio da liberdade de expressão seja exercido ilimitadamente, proporcionando às pessoas sem o dom de percepção das consequencias negativas dos seus atos, meios para fazer e desfazer, denegrindo como queiram a honra e a imagem dos outros, simplesmente pelo fato de que devem fazer o quiserem quando e como bem entendam. Recorrer à justiça para provar a honra é desonrar-se perante a nem sempre consistente honra do julgador.
Não consigo, e talvez seja melhor não entender, porque vivemos num estado democrático de direito, onde todos são iguais perante a lei, em direitos e deveres e tudo o mais, e ainda prevalece em determinadas situações jurídicas as desigualdades explícitas: delegacia da mulher, lei de proteção à mulher (Maria da Penha), foro privilegiado à mulher, quando muitas vezes é a própria mulher que provoca o homem, achincalha-o até dizer chega e ainda bota o dedo na cara, chuta e bate, e ainda diz que "vai na delegacia da mulé que é pra ele ser preso". E o pior é que o coitado, todo machucado de tanto apanhar, ainda vai preso mesmo.
Daí que certas coisas não entendo. A maioria é melhor não entender mesmo.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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