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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A CONSTRUÇÃO DO AMOR (Crônica)

A CONSTRUÇÃO DO AMOR

Rangel Alves da Costa*


Muito além do que os mais férteis pensamentos possam imaginar são as formas de se construir o amor. Na construção desse instigante sentimento estão envolvidos fórmulas, bulas, preceitos, dogmas, regras, sonhos, objetivos e, fundamentalmente, o seu lado mais mundano de ser: desejo, atração, afeição, encantamento e paixão.
A começar, mesmo que os sentimentalistas pretendam negar, o amor é também construído com areia, cimento, pedra, brita, ferro, cal, tijolo, concreto e mármore. E é feito também de tais objetos para que a sua solidez não se deixe vergar nas rajadas dos desencontros e desacertos que lhe ameaçam sempre feito ventania de temporal.
Inegável que o amor é feito do pensamento, da ação, do esforço físico, do suor, da luta, do cansaço e do prazer em ver a face da construção. Não seria diferente porque não surge do acaso e exige uma incansável e exigente busca, principalmente se o que se deseja amar não se afeiçoa a qualquer inclinação passageira.
Com a oração, a fé, a religiosidade, a crença e a devoção também se constrói o amor. Ora, tais aspectos não apenas dão força e conduzem os indivíduos em busca dos seus objetivos amorosos, mas principalmente delimitam o amor espiritual do amor mundano, eis que não servem para a mera atração e a manutenção de uma relação amorosa. É o sentido do amor como valor humano que se encontra, sendo que este é o alicerce para se dignificar até mesmo a entrega corporal.
O amor é construído ainda com os desamores, com os ódios, as raivas, as desavenças, as intrigas, as contradições, as brutalidades, as violências. Quando o ser humano chega ao limite do seu erro ou do seu senso de bestialidade, e ainda continuando humano a ponto de reconhecer sua indefensável conduta, há um amortecimento no temperamento que vai se conduzindo ao entendimento de que nada se constrói verdadeiramente com as mais primitivas reações. E então o amor vai surgindo como uma luz, como um caminho de redenção e como reencontro do indivíduo com o seu outro lado humano, do humano que verdadeiramente ama.
A construção do amor envolve apaixonadamente grande maioria dos elementos da natureza. Muitas vezes, as reações da natureza se amoldam perfeitamente para explicar situações do amor. É assim com o entardecer, a noite enluarada, a paisagem reflexiva, a chuva que cai, a brisa que sopra mansamente, a ventania que se afoita. E tudo desperta a mente para a saudade, as lembranças, a imensa vontade de ter alguém ao lado em cima da montanha ou embaixo da lua imensa dos amantes.
Mas o amor também é construído nas tempestades, vendavais, nos temporais e nas devastações. Se a brisa é como o doce perfume da pessoa amada, os raios e trovões também lembrarão a mesma pessoa amada em outras situações. A briga, a discussão, o mundo que se acaba quase todos os dias, tudo que surge como natureza em fúria é também amor nos seus momentos de explosão, de transbordamento furioso.
O amor é construído pela carência, pela necessidade, pela ideia de que o ser humano necessita da união espiritual e corporal com o outro para viver melhor, para compartilhar situações da vida e dar razão ao coração que não é nem egoísta nem vaidoso. Desse entendimento que ninguém necessariamente nasceu para viver sozinho, é que surge o olhar do indivíduo como a primeira porta extra-sensorial que é exteriorizada para buscar o amor onde quer que ele esteja ou possa ser encontrado.
Depois disso, quando a construção do amor já estiver no patamar de entrada e vão, então resta deixar que entre o coração e aqueles velhos conhecidos que não precisam ser convidados para que cheguem e comecem a se comportar como se donos fossem: o desejo, o sexo, o pecado.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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