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A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



sábado, 18 de dezembro de 2010

COISA BOA É NAMORAR (Crônica)

COISA BOA É NAMORAR

Rangel Alves da Costa*


Seja onde for, como for, em qualquer lugar, coisa boa é namorar. Não é ditado popular, é amar.
Lembro que lá no sertão, num tempo ainda de inocência, se namorava apenas com o olhar, com o beijo jogado ao longe, através do pirulito que mandava a coleguinha entregar, no papelzinho rabiscado com qualquer coisa de amor.
Era corrente entre os jovens namorados versejar como pudessem: "Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão, meu amor quando se deita bota a mão no coração!", "Você é minha bela menina, você é tudo pra mim, é a Rosa, é a Gardênia, é a flor do meu jardim!".
E a menina ficava toda vermelha quando lia o bilhetinho que recebia. Olhava ao longe, e bastava esse olhar para o menino ficar loucamente apaixonado, fazer planos para encontrar com ela, pedir ajuda à sua amiga mais íntima para marcar conversa com a paquera na hora do recreio, na saída da escola ou em qualquer hora e qualquer lugar.
Tudo isso porque, seja onde for, como for, em qualquer lugar, coisa boa é namorar...
São muitos novos, os pais não querem, criam dificuldades e obstáculos, dizem que filho seu só namora quando já estiver bem crescido, souber o quer da vida, estiver interessado pelos estudos e até se formar. E vigia, e olha, vai atrás e persegue, e corre por ali e por acolá, mas não tem jeito, pois quando o amor nasce no peito não tem jeito a dar. É namoro, é namorar.
Mais crescidinhos, afoitos, não queriam mais namoro de pracinha com maçã do amor e procuravam jurar suas boas intenções por trás dos muros da igreja, embaixo da goiabeira no quintal escondido, na casa abandonada, nas pedras do riachinho, pelos matos, trilhando estradas e veredas para fazer cama no capim ou qualquer lugar que fosse bom para amar.
Nas festas, nos domingos de roupa nova e cheirosa, nos olhares que não param de buscar olhares compatíveis, tudo motiva o encontro, a primeira palavra, o sorriso, o toque na mão e o beijo, logo acendendo um desejo que pode faiscar a qualquer instante e qualquer lugar. E tudo é muito rápido, talvez com a pressa de terminar logo o namoro para um novo amor encontrar.
E tudo isso porque, seja onde for, como for, em qualquer lugar, coisa boa é namorar...
Quem parece gostar do furdunço, do bem bom e do ajeitado a todo custo é a natureza alcoviteira, safadinha que só ela, ficando toda feliz e contente quando os jovens estão debaixo do azul, na beira das águas, nos jardins colhendo flor sobre flor, nos caminhos verdejantes dos matos e dos anos que precisam ser vividos para saber mais como foi e é bom viver.
Mas tudo isso porque, seja onde for, como for, em qualquer lugar, coisa boa é namorar...
Quem dera uma voz apaixonada e um violão qualquer para chegar debaixo da janela e fazer serenata como não se faz mais. Vestido de roupa de festa, perfumado e com flor na mão, a lua se torna testemunha de que os versos cantados merecem que abra a janela, se volte com o olhar de donzela e retribua a canção com um beijo. Desça da janela e venha para a rua, para a festa do amor e do coração.
Desça da janela, venha para a rua, pois há noite bonita, há lua prateada, há um convite na escuridão, há o silêncio dos apaixonados, há um bolero ou uma valsinha para dançar, soltos, livres, apaixonadamente entregues à sorte da noite que conhece bem e até ajuda no destino dos amantes, dos enamorados.
Se o amor possui o sopro do alento na vida de dor, que o namoro seja o destino possível daqueles que sabem que esse doce mistério é o maior desvendar no coração que alguém pode ter, em qualquer idade e em qualquer lugar, pois seja como for, coisa boa é namorar.



Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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