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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

SUGESTÕES DE PRESENTES PARA O NATAL (Crônica)

SUGESTÕES DE PRESENTES PARA O NATAL

Rangel Alves da Costa*


Tudo bem, e nada contra, se neste natal você quiser presentear familiares e amigos com produtos importados, reluzentes quinquilharias dos shoppings, vinhos da melhor safra, tapetes persas ou até automóveis de última linha.
Tudo bem, e nada contra mesmo, se neste natal você pretender presentear sua família e seus convidados com uma ceia inesquecível. Certamente incluirá nas suas compras, além dos requintes da cozinha brasileira, o legítimo salmão do Alasca, o irretocável bacalhau da Noruega, olhos de cabritos com tâmaras diretamente do Oriente Médio, Vodka russa e o mais que envelhecido uísque escocês. A lista é imensa e só sabe escrevê-la caneta de rico, a também legítima Montblanc.
O natal é realmente uma festa comemorativa, de compartilhamentos e de trocas. Contudo, aquilo que se costumava chamar de espírito do natal, consistindo no reencontro do indivíduo com o seu lado mais sentimental e verdadeiramente humanizado, passou a representar nada mais nade menos do que um comércio, uma troca de objetos, em imensos festins.
As pessoas que vêm o natal pelo lado meramente festivo e consumista certamente jamais imaginaram se chegasse um tempo em que entrasse o mês de dezembro e passassem a ter a certeza que naquele fim de ano não participariam de amigos secretos, não estourariam seus cartões de crédito ou seus cheques diamante.
Agora, seria realmente desconcertante imaginar se estas mesmas pessoas entristecidas por um mês ficassem sabendo que existem milhões iguais a elas - no aspecto humano logicamente – que jamais tiveram condições de comprar um presentinho sequer para um filho ou pessoa querida. São milhões e milhões de verdadeiros amigos que só conseguem expressar seus afetos e gratidões com a palavra e o abraço.
Talvez essa diferença gritante entre os natais de uns e de outros, entre as comemorações dos pobres e ricos e a forma como eles veem e vivem as festas de fim de ano, seja motivo para a reflexão sobre como seria possível refazer essa lista de presentes e a variação no cardápio, de forma que todos possam comemorar as datas festivas com a mesma alegria no coração.
Em primeiro lugar, não haveria necessidade de troca de presentes, de ceias suntuosas nem de brindes milionários. Também não haveria necessidade de que grande parcela da população somente possa fazer sua festa no dia seguinte às comemorações, com o recolhimento no lixo dos restos de comidas e bebidas.
Em segundo lugar, seria a chance de que os corações materialistas, apaixonadamente desumanos, procurassem meios de retomar seu destino sentimental, de guardar dentro de si coisas boas e se fortalecer procurando refletir sobre a vida e ajudando os mais, muito mais necessitados. Por outro lado, seria a chance daqueles mais carentes sentirem que os olhos do mundo não cegaram completamente.
Contudo, mesmo que se critique o seu caráter de humanização meramente ocasional, existe uma forma muito mais eficiente de se comemorar as festas de final de ano e chamar de novo à existência o verdadeiro espírito natalino, com gestos e atitudes muito mais simples do que se possa imaginar. Muita gente faz isso durante o ano inteiro e comprova sua eficiência espiritual para ambos os lados.
É muito simples, basta utilizar os momentos que seriam dispensados em compras e outros afazeres materialistas e, por exemplo, procurar pessoas solitárias para dialogar, visitar enfermos, ter a coragem de conhecer a vida nos rincões empobrecidos, dar um abraço apertado naquele que acha que não tem amigo, bater na porta daquele que se sente esquecido pelo mundo. Dar um olhar, um sorriso, expressar um gesto de afeição e de amizade.
É que os amigos verdadeiramente secretos não trocam presentes. Se doam.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

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