SAIA DO SOL E DA CHUVA, ENTRE...

A morada é simples, é sertaneja, mas tem alimento para o espírito, amizade e afeto.



quinta-feira, 24 de novembro de 2011

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: MOÇA NUA NA CHUVA

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: MOÇA NUA NA CHUVA

                                     Rangel Alves da Costa*


Conto o que me contaram...
Dizem que havia uma linda mocinha, um misto de beleza encantadora de índia cor de jambo com flor do alvorecer, cujo maior sonho era tomar banho na chuva.
Mas não um banho qualquer, deixando apenas que os pingos caíssem molhando o seu corpo desnudo, mas sim um banhar tão festivo quanto o despertar da alegria para a vida.
Debaixo da água abundante, abrir os braços, cantar, pular, gritar, correr, celebrar a paz, lavar o corpo e o espírito e sentir a imensa e intensa sensação de liberdade, magia e prazer.
Nesse ano fazia uma estiagem tão grande que ninguém imaginava que tão cedo poderia chover. E a cada dia que passava, com o calor aumentando e o corpo ficando agoniado de tanta sequidão, a mocinha não fazia outra coisa senão ficar na janela olhando o horizonte, tentando enxergar alguma nuvem carregada, alguma formação de chuva.
Um dia, tudo começou a estranhamente mudar, o sol se escondeu mais cedo, e sombras entristecidas vieram acompanhadas de nuvens carregadas. Ainda era entardecer, e não demorou muito a chuvarada começou a cair festiva.
De tão alegre que ficou, numa vontade tamanha de tomar banho de chuva, a mocinha nem pensou duas vezes e jogou toda a roupa que tinha sobre o corpo em cima da cama. Em seguida, virginalmente nua como veio ao mundo, correu para a porta dos fundos, na intenção de se jogar no quintal.
Contudo, os pais haviam saído e deixado a porta fechada, trancada de chave. Mas a mocinha nem se aperreou com isso, deu rapidamente a volta e saiu pela porta da frente, maravilhosamente despida para o seu sonhado banho.
E nesse instante todas as portas e janelas se abriram, todos os olhos se voltaram maravilhados para a rua, para aquele corpo que fazia os pingos brilhar com incandescência.
E no outro dia ninguém comentou nada com medo de ser chamado de doido se dissesse que havia visto uma sereia em baixo da chuva, totalmente nua, linda igual iara de sonhos.




Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com 

Nenhum comentário: