ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: OS MENTIROSOS
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Dizem que numa terra distante, muito distante ou logo ali, a fama que mais corria era sobre o jeito diferente de ser do seu povo.
Era verdadeiramente uma gente destrambelhada, prodigiosa no inventar, amiga da fofoca, da pouca verdade e do compromisso com a inverdade. Por ali ninguém acreditava em nada do que o outro dizia, pois cada palavra dita vinha pincelada de caraminhola, aumentando infinitamente ou diminuindo demais.
Para se ter uma ideia, um caçador de preá havia avistado uma onça novinha, com pouco tempo de nascida mesmo, lá pelos cafundós da mata fechada, mas chegou à cidade correndo pra dizer que todos se preparassem para enfrentar a verdadeira fera que estava rondando a cidade.
E disse que era uma onça, dessas pintadas e perigosas demais, que ao abrir a boca pra urrar parecia a boca de um tubarão branco pronto para o ataque. Coisa imensa, terrível demais.
Um artesão deu razão ao caçador e disse também ter visto aquele feroz animal e bem no seu quintal, querendo pular a cerca. De tão grande era a onça pintada de toda cor que nem todo tipo de garrote tinha o seu tamanho. E se benzia ao contar tal proeza.
Foi quando o oleiro chegou e disse que os dois falavam a verdade, mas que a onça avistada por ele, já querendo entrar nas ruas da cidade, era duas ou três vezes maior e sua boca aberta dava pra engolir um homem inteiro. De um urro que deu soltou um bafo tão quente que tocou fogo, num incêndio terrível, de todas as roupas que estavam num varal.
Em seguida uma alvoroçada moradora se danou a dizer que pelo jeito se aquela onça quisesse ia acabar com a cidade inteira, ia comer todo mundo e ainda ficar com fome. Então o caçador logo disse que nem se preocupasse que já estava preparando a arma pra esperar ela na boca da noite.
E arrumou um canhão aonde? Foi a pergunta feita pelo sacristão. E completou dizendo que pelo tamanho da bicha tinha de ser um canhão do exército ianque, pois do contrário todos seriam churrasquinho.
Mas era um pouquinho menor, disse o caçador. Sim, também vi que era menor, apenas uma onça um pouco crescida, disse o outro. Acho que me enganei, pois a bicha não era mesmo desse tamanhão todo não. E foram baixando, baixando, até se contentar em compará-la a um gatinho.
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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