ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: A PEDRA
Rangel Alves da Costa*
Conto o que me contaram...
Dizem que havia uma pedra que era tão dura espiritualmente, tão egoísta e orgulhosa, que preferia suportar enormes sofrimentos para que nada ou ninguém soubesse de suas dores.
Tinha vontade de gritar para o mundo ouvir sobre sua solidão, mas ficava no seu silêncio de pedra.
Tinha vontade de chorar bem alto, choro normal, como é o choro de tudo na vida que chorar, mas preferia petrificar suas lágrimas.
Tinha vontade de revelar seu amor pela ventania do anoitecer, contudo preferia estremecer e sofrer quando a corrente passava soprando sobre seus cabelos.
Porque foi juntando tudo isso, um dia o coração não suportou e partiu. E depois de morta se espalhou pelo vento, grão a grão, tantas vezes pó, tentando fazer tudo aquilo que seu sentimento de pedra não havia permitido.
E cada grão, cada pó, foi caindo num mesmo lugar e muitos anos depois aquele monte petrificou novamente. E quando a pedra sentiu-se pedra outra vez, a primeira coisa que fez foi querer se jogar em cima de um passarinho que passou voando e dando bom dia.
Por que nova chance para a felicidade, se muitas vezes o sentimento de pedra não muda?
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com
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