Eu passarinho
Nasci no mato, sou mataria
menino de chão, criança de sol
um tanto gente e quase passarinho
falando na voz e cantando no bico
entre meu ninho de barro e no oco do pau
crescendo e no mesmo tamanho
pois homem feito e ainda voando
como se o mundo fosse de terra e ar
e o pior ainda não é nada disso
o mais difícil na vida foi escolher
escolher entre ser passarinho e adulto
ter que sair do lugar e no ninho ficar
continuar no sertão e pisar noutro chão
buscar outra vida e querer ficar
mas se caísse chuva no meu cantinho
tivesse o que plantar e o que colher
juro por Deus que só voava por aqui mesmo
pássaro triste acostumado com a natureza
mas porque ainda penso em ser feliz
e toda felicidade de um homem é sobreviver
vou ser passarinho voando noutro lugar
e no mesmo vento voltar quando a sorte mudar
e no meu retorno decidido a ficar
serei Sabiá que aumentou seu ninho
porque dentro dele haverá outro canto a cantar
e ao entardecer um canto de amor rimar
Sabiá passarinho, filho do sertão nesse voejar.
Rangel Alves da Costa
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