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domingo, 8 de abril de 2012

AS REVELAÇÕES NO VELÓRIO (Crônica)

                                        
                                                Rangel Alves da Costa*


Rubinaldo, homem ainda moço, bonitão, cheio de vida e de problemas amorosos, havia sofrido um repentino ataque do coração e caído indubitavelmente morto. Arroxeou no mesmo instante, numa cor que parecia outra pessoa.
Agora estava sendo velado, pranteado por familiares, parentes e até desconhecidos. Fato curioso é que morreu solteiro, porém mantendo três amantes ao mesmo tempo, dando manutenção de casa, comida e tudo mais.
Mesmo se odiando, querendo se comer uma a outra, as três amantes estavam ali chorando a dor da perda, o lamento da despedida do macho. Mas cada uma num canto para evitar confusões, e cada uma tendo ao lado uma boa amiga para prestar o devido e necessário consolo.
Uma dessas amigas dizia: “Chore não Bibiana, que Rubinaldo não merece suas lágrimas. Veja ali no canto aquela sirigaita chorando também por ele. Só não sabe ela que aquela zinha que está ao seu lado fingindo de amiga e consoladora também tinha um caso com Rubinho. Melhor dizendo, Rubinaldo...”.
Espantada, Bibiana perguntou: “Que intimidade é essa de chamar Rubinaldo de Rubinho, e como você sabe que aquela outra também tinha um caso com ele?”.
Enquanto a mulher emudecia sem saber o que responder, noutro canto a mesma mulher acusada de ter um caso às escondidas com o defunto, dizia à amiga chorona: “Chore não Zuleica, que Rubinaldo não merece suas lágrimas. Veja ali no canto aquela sirigaita chorando também por ele. Só não sabe ela que aquela zinha que está ao seu lado fingindo de amiga e consoladora também tinha um caso com Rubinho. Melhor dizendo, Rubinaldo...”.
Surpreendida com a revelação, Zuleica afastou-se um pouco e perguntou: “Que intimidade é essa de chamar Rubinaldo de Rubinho, e como você sabe que aquela outra também tinha um caso com ele?”.
Do mesmo modo, enquanto a mulher emudecia sem encontrar palavras pra responder, em outro canto do velatório a amiga que consolava a terceira amante dizia: “Chore não Cacilda, que Rubinaldo não merece suas lágrimas. Veja ali nos cantos aquelas desavergonhadas chorando também por ele. Só não sabem elas que aquelas duas que estão ao seu lado fingindo de amigas também tinham um caso com Rubinho. Melhor dizendo, com Rubinaldo...”.
Chocada com a revelação, não podendo se segurar diante das acusações surgidas, Cacilda partiu pro meio do salão, quase derrubando o caixão com defunto e tudo, e gritou: “Não bastassem essas duas que se aproveitavam do meu homem, do meu macho, agora sei que ele tinha mais três raparigas. Você, você e você”. E apontou cada uma, inclusive a que estava ao seu lado.
E os outros presentes arregalaram os olhos, avermelharam, nervosamente começaram a buscar lugares mais seguros temendo acontecer o pior. Não duvidavam que uma pequena guerra poderia ser desencadeada dali a pouco, dado as armas que cada uma das amantes tinha na boca e os instrumentos que facilmente encontrariam para a inevitável peleja.
E não deu outra. De repente as três conhecidas amantes se uniram para atacar as três novas amantes surgidas. O povo que estava no velório não pôde conter a fúria das raparigas e a briga foi tão feia, com ataques ao próprio defunto, que o velório acabou na delegacia. O morto ficou numa cela, enquanto as outras seis continuaram se engalfinhando numa bem maior.
Logo cedinho conseguiram um habeas corpus para o defunto e chegaram à delegacia com um alvará de soltura. Mas talvez com medo das amantes, o homem nem quis sair de onde estava.



Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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