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domingo, 22 de abril de 2012

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: FAZENDA TERRA DOURADA (14)


                                                    Rangel Alves da Costa*


Toda essa resistência dos cavalos em prosseguir, culminando com suas correrias destrambelhadas, ocasionou um barulho terrível, com relinchamentos, brados, palavrões, um verdadeiro escarcéu.
Nem a Velha Totonha nem Engracina ouviram nada disso, ainda que não estivessem muito longe dali. Contudo, dentro da igrejinha os irmãos chegaram a se assustar com o que ocorria lá fora. E acaso soubessem do que realmente se tratava o susto certamente seria muito maior.
Verdade é que estavam aflitos ali dentro da igrejinha, com pouca luz, temendo abrir as portas, e sem conseguir encontrar vestígio de nada. Quase não havia altar, nenhum móvel ou baú era avistado ali, impossível de o ouro estar escondido por debaixo da madeira dos bancos. Preocupados com essa situação, em não ter encontrado nada mais animador, apenas um olhava para o outro como a perguntar onde poderia estar a riqueza dourada.
Um pouco antes de ouvirem o barulho lá fora já haviam concordado que o ouro só poderia estar ou debaixo do piso ou em disfarces na parede. Mas o piso não possuía nada, nenhuma falha ou marcação que pudesse guardar qualquer coisa ali embaixo. Então concluíram que só poderia estar mesmo na parede de pedras, em local de abertura secreta, porém fácil demais para quem já tivesse conhecimento.
Decidiram ir procurar martelos, pás, enxadecos, picaretas, quaisquer instrumentos que ajudassem na violação do lugar até que o esconderijo fosse encontrado. Com a intenção de arrumar a qualquer custo as armas para iniciarem a busca, seguiram em direção à porta dos fundos, porém no mesmo instante que os cavalos riscaram nas proximidades. Não puderam seguir adiante. Naquele momento não. Recuaram um pouco e até sorriram quando os animais deram meia volta e saíram em disparada. Então, aproveitaram a ocasião para também saírem em disparada dali.
Contudo, já lá fora, um pouco distante, um tanto entristecidos porque haviam sido descobertos, ficaram imaginando o que fazer a partir daquele instante. E Licurgo deu um salto e disse que já havia encontrado a solução, e sem precisar mais de ferramentas para alcançar o ouro. Então afirmou que bastava colocar as mãos no padre, forçando-o a acompanhá-los, que certamente ele mostraria onde a riqueza estava escondida, sob pena de morrer.
Mas como fazer isso, se o homem da igreja a essa hora continuava no quarto junto com seu pai? Esperar mais um pouco e apanhá-lo quando já estivesse indo embora talvez fosse tarde demais, pois a jagunçada certamente logo estaria de volta. Pensaram e pensaram, então Permínio disse que iria até o quarto e como quem não quer nada convidaria o padre para dar um passeio. Uma vez nos arredores, o irmão atacaria e forçaria que fosse até o local.
Plano acertado, assim que Permínio se dirigia em direção à moradia, eis que inesperadamente o padre vai saindo da casa, andando tranquilamente, porém sem seguir na direção do seu animal. Tencionava ir até a casa da Velha Totonha conversar com ela sobre aquela terrível situação e marcar o dia que iria acabar com aquela história de maldição de uma vez por todas.
Ao avistá-lo se encaminhando naquela direção, os dois irmãos se abaixaram por detrás de uma pedra e ficaram esperando somente o momento do ataque. E praticamente no instante seguinte já estavam agarrando o velho padre, prendendo-o pelos braços e o conduzindo forçadamente, sem poder gritar ou pedir socorro, e rumando apressadamente na direção da capelinha.
Empurraram a porta e o jogaram lá dentro, exigindo, sob pena de apanhar até morrer, que dissesse logo onde o ouro estava escondido. Contudo, ainda espantado, sem realmente saber o que estava acontecendo e por que aquela violência toda por parte dos filhos de seu amigo Badaró, o velho homem continuou de boca fechada. E assim permaneceu até que um primeiro safanão lhe foi dado no rosto.
Quando abriu a boca, decidido a revelar o local, a porta dos fundos se abre e entra Dona Graciosa, rechonchuda como sempre, indo até ali pegar o quinhão de ouro do dia pra levar até o quartinho e acalmar a maldição da bacia.


Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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