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sábado, 7 de abril de 2012

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: A ESCOLHA DA MENINA


                                           Rangel Alves da Costa*



Conto o que me contaram...
Dizem que num tempo mais distante, onde a cria nascida mulher pouca escolha podia fazer na vida, uma família resolveu cometer aquilo que era mais que costumeiro à época: escolher aquele que seria futuro esposo da filha.
O problema é que tal procedimento tomou um viés absurdo, uma indigna atitude familiar, vez que os pais resolveram não escolher aquele que poderia ser o melhor para a filha, mas sim aquele cuja família fosse mais rica, tivesse mais bens e reconhecimento social, e o dito pretendente quisesse tomar posse daquela beleza de mulher.
Com tal intenção, os pais logo começaram a pensar no que fazer para que os planos se tornassem realidade. A mulher deu a ideia de enviar cartas às famílias mais ricas do lugar, tendo uma foto da menina acompanhando o comunicado, e indagando se ali tinha moço solteiro interessado em ter como esposa a mocinha mais linda que já havia nascido na região.
Se o interesse fosse confirmado, que mandassem resposta dizendo qual o dote que poderia ser oferecido. Assim, depois de todas as respostas enviadas, os envelopes seriam abertos e o dote maior que fosse oferecido seria considerado o mais justo e vitorioso. Não importava se o pretende era feio demais ou anão de menos de meio metro, se era caolho ou doido varrido. Nada disso importava, pois o valor do dote tinha o dom de tornar de beleza esplendorosa todos os defeitos.
Já o pai optou por oferecer uma festança e convidar as tais famílias com seus filhos solteiros. Fariam buchada, carne de galinha de capoeira, churrasco, sarapatel e mocotó gordo de vaca. Muita cerveja, uísque e cachaça, além de vinhos e refrigerantes. Contratariam um sanfoneiro e assim a festa estaria garantida.
E quando já fosse lá para o entardecer, quando a bebida já tivesse surtido o efeito esperado, então começaria o verdadeiro leilão. Quem dá mais para ter a bela menina como nora, como esposa, como futura pertencente à família?
A esposa não gostou da ideia do marido pelo gasto exorbitante que seria. Mas este provou por todas as letras que ao invés de despesa aquilo seria mais que um investimento, uma verdadeira descoberta de mina de ouro, pois o dote afortunado que receberiam era apenas o começo de uma fortuna maior. Ora, colocando a filha no meio da riqueza era como passar a fazer parte também da dinheirama fácil e abundante.
Pensaram, discutiram, enfim resolveram pela festança. E no dia marcado, com tudo dando certo conforme o planejado, com muita comida, bebida e famílias ricas atendendo ao convite, trazendo ao lado o filho sempre rejeitado por todas as moças do lugar e além, foram se acomodando na expectativa do oferecimento da oferta, do dizer quanto dariam pela jovem.
Contudo, no exato momento que os pais da menina foram buscá-la para a apresentação encontraram o canto mais limpo. E em cima da cama um bilhete:
“Não sou objeto para ser vendida nem trocada. Se o negócio é arrumar homem pra mim não se preocupem, pois já arranjei. E a essa hora já estou bem longe ao lado dele, aquele belo rapaz, homem sério e trabalhador, que vivia bem ali pertinho da gente. Lembram do rapazinho roceiro chamado Justino? É ele o homem, e é com ele que estou agora. Sou mulher e tenho o direito de escolher quem amar”.


Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
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