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domingo, 15 de abril de 2012

ESTÓRIAS DOS QUATRO VENTOS: FAZENDA TERRA DOURADA (7)


                                                      Rangel Alves da Costa*


Ao ouvir o relato de tantas atrocidades, a filha do coronel Badaró começou a chorar convulsivamente. Sabia das durezas e grosserias de seu pai, contudo nem de longe imaginava que ele fosse capaz disso tudo. Estava sendo consolada pela velha amiga, quando esta avistou ao longe o sacerdote chegando montado num burro.
Certamente havia chegado ao ouvido do religioso a doença do Sinhô Badaró, seu amigo e tantas vezes confidente. Noutra situação, logo se imaginaria que o homem tivesse sido chamado às pressas para a extrema-unção. Mas não, seria apenas uma visita de amigo para amigo e numa ocasião especial, considerando-se e ligeira enfermidade do senhor de terra e gente.
A Velha Totonha, ainda consolando a mocinha, torcia para que esta resolvesse voltar pra casa e não tencionasse mais nem fazer perguntas sobre o já relatado nem se dirigir até seu barraco. Mas Engracina pensava diferente, pois quando já estava um pouco mais refeita a primeira coisa que perguntou foi sobre o que poderia acontecer dali em diante tanto com seu pai como com o ouro e a tal bacia dos pecados.
A velha balançou a cabeça desgostosa, e vendo que não tinha jeito mesmo puxou-a pelo braço em direção a um grande tronco de madeira deitado mais pra um lado do craibeiro. Sentada poderia explicar logo tudo de uma vez por todas. E dessa conversa saíram revelações difíceis de se acreditar. Ou simplesmente acreditar para ter a certeza do quanto misterioso é esse mundo de amanhecer e anoitecer.
No mesmo instante que sentavam, o velho sacerdote entregava seu chapéu a um empregado do imponente sobrado, que também poderia ser chamada de casarão se não fosse o outro casarão mais antigo bem ao lado. Imediatamente foi conduzido ao quarto pela gorducha dona da casa. Ali encontrou Horácio Badaró pedindo aos dois filhos que sentassem para uma importante conversa.
Quando o coronel avistou o velho sacerdote até quis levantar para cumprimentá-lo. Foi impedido pela esposa, que ao mesmo tempo exigiu que os seus dois marmanjos dessem a benção ao padre. Fizeram pouco caso, mas acabaram sendo abençoados assim mesmo. Em seguida o religioso aproximou-se da cama e falou que a feição não era de quem queria partir logo não, referindo-se ao amigo.
Horácio Badaró olhou firmemente no olho do padre e sentiu que o semblante deste anunciava o desejo de uma conversa particular. Mas com os dois filhos ali não poderia entabular confidências com o amigo. A gorducha esposa já havia saído para mandar providenciar quitutes e aperitivos quando o coronel pediu aos filhos que deixassem a conversa pra mais tarde, pois no momento precisava ficar a sós com o da igreja.
E assim foi feito. No exato momento que trancaram a porta, o sacerdote arrastou a cadeira, colocando-a bem ao lado da cabeceira da cama. Em seguida perguntou se o amigo adoentado tinha alguma coisa importante para lhe falar, algum segredo a revelar. E porque o padre sabia do ouro escondido nas paredes da igrejinha e qual a sua penosa serventia, certamente que todo assunto importante seria sobre a destinação a dar àquela riqueza amaldiçoada acaso o pior viesse a acontecer, ou seja, se a morte levasse o coronel.
Não sabiam, contudo, que tanto Licurgo como Permínio, os dois filhos, naquele instante estavam com os ouvidos colados à porta tentando ouvir qualquer coisa que os dois conversassem. E por que não sabia, o coronel disse ao padre:
“Padre, verdade é que os meus filhos não sabem nada daquele ouro escondido nas paredes da capelinha. Não sabem da riqueza ali guardada nem para o que ela está tendo serventia todos os dias. Se soubessem certamente iriam querer botar as mãos naquela riqueza e com isso os meus dias estariam contados. Como o senhor sabe, sem o ouro pra acalmar a fúria da bacia dos pecados, esta ficaria com as águas tão podres que transbordaria todas as imundícies ali contidas. E com as águas putrefatas derramadas seria também o fim de minha vida, pois morrerei no momento que isso acontecer. E o pior que depois de morto terei o mais amargo dos destinos...”.
Ao ouvir isto, Licurgo e Permínio se olharam espantados, estupefatos, com olhos que pareciam querer saltar de suas órbitas, num misto de ambição e temor.
Continua...



Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
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