Carta das águas
Escrita num tempo esquecido
dobrada e presa num laço de fita
foi colocada dentro da garrafa
e deixada ao sabor da ventania
ondulando nas águas da tarde
e assim seguiu viagem incerta
mais de cem anos se passaram
desde que a mão trêmula
entregou às águas a garrafa
envelope de vidro e sua carta
contendo palavras de amor
sem saber quem a encontraria um dia
na solidão do entardecer
numa dessas tardes de aflição e dor
a moça passeava pela areia da praia
quando a onda trouxe o vidro
a garrafa inteira e seu segredo
e quase grita para que recolhesse
“... porque meu amor, a vida,
essa vida tão metade e nada
sem tua compleitude em mim,
é vida à deriva que se esvai
como o silêncio da saudade no cais
por um amor que não volta mais”
e entrou nas águas para devolver
ao seu dono a carta com sua dor
e como era distante o destino
pois nunca mais foi vista na margem
passeando solitária e triste
esperando o seu impossível amor.
Rangel Alves da Costa
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